U2 Magazine, No. 7, 01 de Maio de 1983
Por: Carter Alan
(Publicado no Boston Rock, Março de 1982)
Quinta-feira, 11 de Fevereiro de 1982: O U2 abre sua quarta turnê pelos EUA em grande estilo a bordo do S.S. President, um barco de cinco-decks.
Os enormes paddlewheels foram removidos para dar lugar a hélices mais eficientes, mas dentro do barco, a antiga grandeza foi em grande parte preservada. 1.500 fãs tomaram conta do barco, provas de que Nova Orleans oferece algum suporte a cena new wave. O suporte via rádio é mínimo (o mais próximo que qualquer emissora comercial transmite é Joan Jett), mas um dos promotores do concerto diz que a Universidade de Tulane tem uma estação que transmite várias horas de rock and roll alternativo toda semana. Ele também acrescenta que o U-2 é dos favoritos dos ouvintes e a estação atinge toda a área metropolitana.
RZA, um equipamento local, aquece a multidão antes da agenda de programação, enquanto o President cruza o Mississipi. Este quarteto tem um bom controle sobre direções da música punk do passado, e mais recentes como o ska e rock em linha reta. O público está solto e dança, assim como eu faço andando pelo navio para encontrar o camarim do U-2. Muito apropriadamente, eles estão na cabine do Capitão.
"Esta é a primeira vez que vamos tocar em um local e o local vai andando!", brincou o manager da banda, Paul McGuinness. McGuinness está muito contente sobre hoje à noite, como se ele não estivesse preocupado com o fato do grupo ter ficado mais de um mês sem se apresentar. Após algumas datas no Reino Unido em dezembro, a banda esteve ocupada escolhendo faixas para um novo single (que parece iminente). Ainda assim, McGuinness é consciente de que o rádio americano é um osso duro de roer. Se sua banda não está tendo exposição nas ondas de rádio, então é melhor que eles estejam trabalhando na estrada. "Você sabe, quase tivemos que esquecer essa turnê."
O baixista de cabelo-fofo loiro Adam Clayton diz: "Sim, estamos quase sempre perto de quebrar, mesmo na estrada, mas desta vez iríamos perder muita coisa. Então descobrimos que íamos tocar duas semanas com a J. Geils Band em estádios."
"Vamos tocar na Florida e Costa Oeste com eles", completa Bono, o vocalista, que está usando um modelo de seu suprimento infinito de chapéus.
Será um enorme trunfo para o U-2 tocar nos estádios, não apenas pelo número de pessoas lá, mas para sua relativa juventude. Embora o grupo tenha cruzado a América extensivamente, sua influência é ainda limitada a bares de rock and roll. Boston é um dos poucos lugares onde a popularidade do U-2 lhes permite ter ingressos esgotados no Teatro Orpheum com todas as idades comparecendo.
Com a proeza do U-2 no campo instrumental, o crescente talento Bono como um frontman e a exuberância da banda no palco, há pouca dúvida de que um estádio cheio de adoradores da Geils reagirá favoravelmente. Certamente os headliners defendem as mesmas coisas.
Com as amarras soltas e o President se movendo para as águas lamaçentas, o U-2 sobe ao palco, que foi configurado à meia nau como o interior de um teatro de dois andares. The Edge e um som sônico de guitarra anuncia "Gloria", com as pessoas se amontoando nos confins já lotados na frente. "Another Time Another Place" é a próxima, e foi quando eu decidi procurar outro lugar para assistir. O público em Boston não é violento, mas esse público de Nova Orleans certamente é. Uma onda de gritos, chutes e arranhões segue quando cinco pessoas disputam o espaço do qual estou tentando sair. Um passo rápido para o lado e estou livre quando o U-2 começa a tocar "I Threw a Brick Through a Window". Uma surpresa é "A Day Without Me", seu segundo single, que foi retirado do setlist após a primeira turnê. A guitarra de Edge alcança o céu e e lá permanece, enquanto Bono chega à picos furiosos com uma voz firme e muito suor.
Apesar do problema no meio do multidão, nenhuma violência é dirigida para a banda, com exceção de alguns cubos de gelo lançados em direção de Bono. (O cantor esvazia prontamente uma lata de cerveja na fileira da frente, como retaliação). Terminando com o bis com "Fire", "11 O Clock Tick Tock" e "The Ocean", como o barco rio acima, o U-2 deixa o palco. Mais tarde, estou empolgado, mas surpreendeu-se quem achou que o show da banda era medíocre. Ainda assim, tenho que falar isso pra eles, os melhores músicos nunca estão satisfeitos.
VALE LEMBRAR:
Rob Partridge lembra um fatídico encontro em 1982 com o homem que iria transformar e moldar a imagem da banda até os dias atuais: o "mestre holandês", Anton Corbijn.
"Levei Anton para New Orleans para fazer uma reportagem de capa para a revista NME em 1982", diz Partridge. "Eles estavam tocando num barquinho para cerca de 400 pessoas, e a grande atração do barco era que ele flutuava subindo e descendo o Mississippi, então os jovens poderiam fumar maconha no convés superior com pouca probabilidade de serem apanhados. O link com Anton foi absolutamente instantâneo. A banda é muito perspicaz e tinham visto suas fotos na NME. Eles tinham uma estética sobre eles, que apelou para o U2. E que progrediu para que Anton fizesse cada foto desde então, fazendo também seus vídeos e essencialmente, tornando-se consultor cultural para a banda."