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sábado, 1 de outubro de 2011
U2 Go Home Live From Slane Castle, por Stuart Bailie
Tradução do texto incluido no encarte do DVD:
Aqui estão eles, 80.000 enlevados e sorridentes rostos, curtindo o sol no gramado do anfiteatro do castelo de Slane, no Condado de Meath, na Irlanda. É o primeiro dia de setembro de 2001 e o U2 está de volta ao palco ao qual eles estiveram pela primeira vez há quase 20 anos atrás. Vai ser uma noite emocionante.
O vigésimo aniversário do show em Slane é cheio de lembranças em muitas formas, conscientes ou não. Pela primeira vez, permitiu-se que o evento aconteça em dois sábados consecutivos, 25 de agosto e 1° de setembro, com a popularidade do U2 em sua terra natal convencendo as engrenagens burocráticas a agilizar as coisas e garantir a necessária autorização.
Essa é uma doce constatação, então, uma chance de relembrar a Baby Band e a Big Idea, e a rica jornada que se seguiu. Então Bono olha para a multidão, com todo aquele júbilo coletivo e estímulo. Ele vê uma série de camisetas vintenárias do U2 (algumas delas da início da banda), as pirâmides humanas, as fogueiras improvisadas, as muitas bandeiras irlandesas, os martelos infláveis, os chapéus leprechaun e uma centena de outras máscaras de falso rock´n´roll. E você pode dizer que ele se sente satisfeito. “Essa”, ele declara, “é nossa tribo!”.
E não existe lugar melhor para promover uma reunião tribal do que Slane, às margens do Rio Boyne. O U2 se apresentou no primeiro de todos os festivais aqui, em 1981, como banda de abertura para o Thin Lizzy, uma banda que fez muito para tornar a musica irlandesa uma força respeitada. Bono até cantou nesse local com Bob Dylan, juntando-se a ele no palco in 1984. Naquele mesmo ano, o U2 gravou partes do álbum The Unforgettable Fire no principal salão de baile do castelo. Durante aquelas primeiras sessões com Brian Eno e Daniel Lanois, eles criaram Pride (In the Name of Love), e também lamentaram quando os salões do castelo foram consumidos por um incêndio, em 1991.
O castelo de Slane já teve muitos proprietários ao longo dos anos, desde os invasores normandos, até os lordes ingleses. Compreensivelmente, os irlandeses se sentem um pouco ambivalentes a respeito de seu passado, mas quando Lord Henry Mountcharles, o atual proprietário, encontrou uma “utilidade roqueira” para essas terras, poucas pessoas tiveram alguma questão contra seu novo papel na cultura popular.
Ainda assim, o vale do Rio Boyne tem uma história muito mais profunda. As fantásticas tumbas megalíticas em torno do lugar são anteriores às pirâmides. O sítio arqueológico de Tara, próximo daqui, foi onde os Altos Reis da Irlanda mantinham o seu lendário tribunal. O Rio Boyne testemunhou as aventuras clássicas de São Patrício e Cuchuilain, o mais tradicional herói irlandês. Enquanto isso, uma batalha aqui em 1690 criou um duradouro sectarismo entre o norte e o sul, católicos e protestantes na Irlanda. Essa é a história da Irlanda.
O U2 nunca esqueceu o constante pano de fundo da Irlanda, em sua memorável carreira. Essa noite, Bono relembra o dinheiro que eles conseguiram com as famílias para pagar pela primeira demo tape, e de como eles decidiram manter sua base de operações em Dublin, quando a sabedoria da indústria fonográfica declarava que Londres ou Nova York eram os lugares certos.
Enquanto a turnê Elevation percorre seu caminho através da Europa no verão, as notícias davam conta de que o pai de Bono, Bob Hewson, estava morrendo de câncer. Em resposta, a canção Kite recebeu uma carga poderosa, enquanto Bono cantava sobre paternidade e mortalidade e sobre o eterno. O funeral de Bob Hewson aconteceu em 24 de agosto, o dia anterior ao primeiro show em Slane. E o show subseqüente foi incrível.
A multidão estava profundamente emocionada, disposta a apoiar o vocalista durante o show, deixando que ele usasse Kite e One para expressar seus pensamentos. Bono, agradecido, aceitou a oferta, e recebeu algum alívio por si só.
Em contraste, o segundo show em Slane foi uma celebração de grandes proporções. Durante aquela tarde de 1o de setembro, a República da Irlanda havia disputado uma partida de futebol contra a Holanda. Uma vitória local era pouco provável, mas levaria os irlandeses para a Copa do Mundo de 2002. Sabiamente, o U2 escolheu mostrar o segundo tempo do jogo nos telões de Slane. E quando Jason McAteer marcou o único gol da partida, aos 22 minutos do segundo tempo, carimbando o passaporte da seleção irlandesa para o Japão, a multidão ficou realmente eufórica. Mais tarde, Bono chamaria a seleção irlandesa de “a melhor banda de abertura que eles já tiveram”.
Então é por isso que Bono se enrolou na bandeira irlandesa durante New Year´s Day. Por anos a fio, ele havia usado a bandeira branca, dizendo que o nacionalismo estúpido era parte do problema da Irlanda. Seus próprios pais romperam a barreira católico-protestante, e o vocalista tentava incessantemente se engajar na política local, apoiando o Acordo de Paz da Sexta-Feira Santa e deixando seus pensamentos sangrarem em canções como 'Staring At The Sun'. O atentado a bomba em Omagh havia matado 29 pessoas e 2 bebês que ainda não haviam nascido, no mercado daquela cidade da Irlanda do Norte, em 1998. Alguns daqueles nomes acabaram fazendo parte da canção do U2, Peace on Earth. E durante Sunday Bloody Sunday, Bono leu os nomes novamente para a multidão em Slane, criticando as mentes doentias por trás das atrocidades.
Até os shows em Slane, a turnê Elevation tinha tido um clima mais intimista, em espaços fechados, as arenas. Mas se expandiu para os shows irlandeses em algo muito maior, mais ressonante. Havia pesar e orgulho no ar daquele verão tardio, cânticos de futebol e anedotas pessoais. O U2 tinha ainda uma turnê americana pela frente, cujas datas seriam completamente alteradas pelos eventos da semana seguinte, em 11 de setembro. Ninguém em Slane poderia sequer ter imaginado tal coisa. Estávamos todos vivendo aquele momento, assistindo aqueles fogos de artifício inesquecíveis, cintilando acima do Rio Boyne, sentindo que esse retorno ao lar tão particular era mesmo algo muito especial.
Tradução por Maria Teresa M. da Rosa
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