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domingo, 9 de outubro de 2011

Os 30 anos de 'October', o segundo álbum do U2

Em 20 de outubro de 1981, há 30 anos atrás, o U2 lançava o seu segundo álbum de estúdio, "October".
Após concluir a turnê Boy em fevereiro de 1981, o U2 começou a gravar novo material (o single de "Fire" já tinha sido gravado no Compass Point Studios nas Bahamas enquanto a banda fez uma pausa da Boy Tour). Eles escreveram parte de October, durante um longo soundcheck na First Avenue em Minneapolis. A banda entrou em estúdio em julho de 1981 para gravar 'October', mas as sessões de gravação do álbum foi complicada quando a pasta que continha as letras de Bono foi roubada por uma fã após um show em Portland, Oregon. A banda já reservara tempo de estúdio até o final de agosto e, portanto, tiveram que continuar a gravação mesmo improvisando letras em algumas músicas.

O registro coloca ênfase na religião e espiritualidade, especialmente nas canções "Gloria", "With A Shout (Jerusalem)" e "Tomorrow". Sobre o álbum, Bono declarou em 2005: "Você pode imaginar o seu segundo álbum — o difícil segundo álbum — ser sobre Deus?".
Além dos quatro integrantes do U2, o álbum tem um convidado especial na faixa 'Tomorrow': Vinnie Kilduff, que viria a ser depois um membro da banda In Tua Nua, toca o instrumento Uilleann Pipes na música.

Confira o que os integrantes do U2 disseram sobre algumas faixas do álbum, o título do disco e a foto da capa, tudo isso na biografia U2 BY U2:

BONO: ‘Fire’ não foi uma música muito boa. Sempre tive esperança de que a poderíamos compensar à medida que fossemos avançando, mas, por vezes, não conseguimos, e ela acabou sendo um exemplo disso.

EDGE: Todos sabiam que o segundo álbum tinha que ser melhor. As sessões eram bastante penosas, sobretudo para o Bono. E em um momento de desespero, surgiu a letra de ‘Gloria’.

BONO: Acreditava – e ainda acredito - que a melhor forma de nos desprendermos, de forma criativa, espiritual e de todas as outras formas, é sendo verdadeiros. É algo muito difícil, sermos verdadeiros com a gente mesmo. E se não temos nada a dizer, essa deve ser a primeira frase da música: I’ve nothing to say (Eu não tenho nada para dizer). Comecei então escrevendo sobre isso. A música Gloria é sobre essa luta e a transformei num salmo: I try to stand up but I can’t find my feet. I try to speak up but only in you I’m complete: Gloria in te domine. Bastante louco para alguém de 22 anos. Canto gregoriano misturado com esse salmo. Era uma música espiritual.

Bono: Há uma música chamada ‘Rejoice ‘, que tem exatamente a mesma imagem que ‘I Will Follow’ – uma casa desmoronando. Considero bizarro ter escrito duas músicas usando essa mesma imagem. Tínhamos tocado ela duas vezes por noite e aqui está ela outra vez. "It's falling, it's falling, the buildings are tumbling down. Inside a child on the ground says he'll do it again". É como um sonho que se repete. Analisando agora essas primeiras canções, onde a linguagem não é tão importante como estas imagens inconscientes, vejo que isso pode estar relacionado com uma certa falta de prudência. É o tipo de situação com a qual muita gente se identifica, mas não é algo intelectual.

'Tomorrow' foi inconsciente. Anos mais tarde percebi que era uma narrativa sobre o funeral da minha mãe. "Don’t go to the door, there’s a black car outside". Devia estar me referindo ao carro fúnebre. São tudo divagações. Estou tentando simplesmente dizer a mim mesmo: “Ultrapasse isso!” Mas essas coisas que acontecem em nossas vidas, senão lidarmos com elas de forma adequada no momento, acabam arrumando um jeito de vir à superfície, encontrando fendas por onde possam emergir.
‘I Threw A Brick Through A Window’ é uma música sobre não gostarmos de nós. E vermos o nosso reflexo em uma janela e ter vontade de quebrá-la. Não sei de onde veio essa idéia. Tento não me dedicar a auto-repugnância, mas, de vez em quando, ela acaba vindo à tona. Para mim, a culpa é uma emoção completamente inútil. Cometemos um erro, tentamos retificá-lo, pedimos desculpas e seguimos em frente.

LARRY: Tive grandes dificuldades na música ‘I Threw a Brick a Window’ por causa do tempo. Muitas vezes, depois de passarmos dias compondo e recompondo, gravando e regravando, era difícil manter o ritmo, e o fato de não usar um metrônomo não ajuda nada. As peças da bateria é que sofriam quando eu tocava com toda minha energia para tentar manter o ritmo. O meu despertar deu depois de um dia inteiro sem conseguir progredir na ‘I Threw A Brick’. Quando voltei ao estúdio no dia seguinte, o Edge tinha feito um arranjo de uma parte da bateria excelente. Fiquei puto por ele ter composto uma parte da bateria melhor do que eu. Era o empurrão que eu estava precisando.

BONO: Quis dar o nome de October ao álbum. O título veio antes da música. Era a idéia de que tínhamos nascido nos anos 60, na época em que o materialismo atingia seu ponto máximo. Tínhamos frigoríficos e carros, colocamos gente na lua e todos pensavam que a humanidade era o máximo. Mas os anos 80 foi um período mais frio. Materialismo sem qualquer idealismo, o sol sem calor, inverno. Foi após o outono, após as colheitas. Eu tinha a frase: October and the trees are stripped bare of all they wear. Aqui estou eu, com 22 anos, com a cabeça cheia de termos góticos, olhando para um mundo onde há milhões de desempregados e pessoas passando fome. E nós só usamos a tecnologia com a qual fomos abençoados para construir bombas maiores, para que ninguém desafie as nossas idéias fúteis. A cristandade nos diz que Deus está morto, mas eu penso que a cristandade é que morreu e nós fomos contratados para tocar no funeral. Pensamentos loucos. Os álbuns do Joy Division afetaram mesmo as nossas idéias. October é um título nefasto. A música em si é um trabalho meditativo e suave. O Edge ao piano, tocando umas notas gélidas, e a imagem da perda da inocência, o outono, as folhas caindo das árvores, e a pessoa fica exposta. Fiquei maravilhado durante essas sessões em que o Edge tocava piano. Nem sabia que ele era capaz. E ele também não!

BONO: A capa foi culpa minha. Eu tinha uma ligação muito forte com Docklands em Dublin. O Windmill Lane ficava nas docas, e havia lá uma parte em particular que eu ia durante as gravações para tentar me inspirar. Era um lugar muito especial, tinha uma espécie de estética industrial. Havia alguma coisa naquela água. Agora é onde ficam os estúdios Hanover Quay, os nossos estúdios, e é também o centro da nova Dublin. Mas, na época, não havia qualquer sinal de vida. Apenas um cachorro chamado Skipper e um cara chamado George, que era o guarda. Creio que o instinto de fazer a sessão fotográfica lá estava certo, mas não teve o resultado esperado.
ADAM: Não fazíamos idéia do que era sermos dirigidos ou estilizados para algo do gênero. Foi tudo muito básico, juntamos os quatro e tiramos uma fotografia. Na época o Bono gostava daquelas apresentações estilo anos 60, com uma margem em volta da fotografia e as listagens das músicas na frente. Muitas pessoas tentaram que mudássemos de idéia. Alguns representantes da Island Records falaram: “A capa é horrível.” Mas nós estávamos tão iludidos, que nem ligamos.
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