Gavin Friday relembra seu passado em "When The World Was Young", uma música de seu novo álbum 'Ecce Homo', e é dedicada a Bono e Guggi.
"Eu não planejava escrever sobre todas essas coisas retrospectivas, mas é o que acontece quando você faz 65 anos", diz Friday. "Dedico a música "When The World Was Young" ao Bono, Guggi e à turma do Lypton Village, mas acho que nos perdemos... nem sabíamos o que ia acontecer. Fomos rejeitados na América. Lembro que a primeira grande rejeição foi no The Late Late Show, Gay disse não. Foi no mesmo fim de semana do Papa no Phoenix Park. Eles nos espancaram por um ano.
Depois fomos para Londres e tínhamos uma espécie de culto de seguidores, mas era quase como 'como ousar não ser o típico irlandês'. Não parecíamos com The Blades, U2 ou The Vipers, então fomos para a Europa e abraçamos totalmente a ideia. Hoje em dia, estou animado para ver o jovem Gavin Friday podendo andar por aí de mãos dadas e não levar chutes na cabeça".
Bono, The Edge e Guggi foram vistos em shows da turnê europeia de Gavin Friday.
Durante estas apresentações, Gavin falou sobre ter conhecido Bono e Guggi: "Um garoto numa rua sem saída veio até aqui para fazer uma ligação em 1974 e conheceu outros dois garotos. Eu morava naquela rua sem saída, eles moravam do outro lado da rua. Fizemos algo extraordinário, nos tornamos amigos".
Gavin relembra seus primeiros dias na Cedarwood Road. Ao apresentar "When The World Was Young", ele diz: "Dois outros caras daquela porra de Cedarwood Road. Esta vai para o garoto do 140, o garoto do 10 e o garoto do 5".
O novo álbum é uma verdadeira odisseia. Dedicado à sua falecida mãe e a vários amigos que faleceram nos últimos anos, ele aborda temas típicos de Gavin Friday, como catolicismo, sexo e política.
O título do álbum significa "eis o homem", as palavras irônicas de Pilatos a Jesus Cristo quando colocou uma coroa de espinhos em sua cabeça. O novo álbum é como se Gavin Friday estivesse se reapresentando — e se assumindo — após 13 anos de ausência desde seu último álbum, 'Catholic', de 2011.
"Sou eu me reapresentando, mas sou um tipo singular de artista e nunca andei na linha", diz ele. "Sempre andei sozinho e não sigo a esteira rolante, mesmo quando era garoto com os Virgin Prunes. Às vezes, fico sentado em casa ouvindo Mahler. Mas eu não fiquei parado nos últimos 13 anos. Tenho estado muito ocupado com projetos paralelos, trilhas sonoras, meu trabalho com o U2, porque eles ficaram muito ocupados com shows nos últimos dez anos. Coisas da vida real também aconteceram. Minha mãe ficou muito doente e eu tive que tirar um tempo, um tempo que eu queria tirar, e aí a pandemia nos atrapalhou. Eu não estava relaxando nem durante a pandemia. Não há nenhum elemento de aposentadoria no horizonte".
Sua mãe, Anne Storey Hanvey, faleceu após lutar contra o Alzheimer, seu velho amigo e colaborador, o produtor musical americano Hal Willner, também faleceu, e então após 15 anos Ralf, o irmão de ninhada de Stan, seu dachshund alemão de pêlo longo, foi para o paraíso canino. Então, sua velha amiga Sinéad O'Connor morreu.
"O Ralf faleceu dois dias depois da morte da Sinéad, o que foi muito triste. O país inteiro ficou triste com a Sinéad. Havia uma dor de forma linda no país. Lembro-me de quando a notícia saiu, a RTÉ começou a tocar a música dela e eu me lembro de sair para passear com os cachorros e tudo o que se ouvia em todas as casas da cidade era a música da Sinéad. As pessoas a amavam, e dois dias depois, um dos meus pobres cachorros morreu. E aí, para o Hal e minha mãe, foi uma luta, porque era uma coisa lenta. Alzheimer é uma doença terrível. Ela tira o espírito e a alma".
Anna foi uma das primeiras apoiadoras de Gavin Friday e fez roupas para os shows extravagantes e vídeos do The Virgin Prunes.
Ela é a estrela da faixa "Amaranthus (Love Lies Bleeding)". "O nome é uma homenagem às plantas que ela costumava cultivar", diz Friday. "A letra fala sobre perder alguém e não estar feliz com isso. Minha mãe foi possivelmente minha primeira grande fã e apoiadora. Ela era a costureira do The Virgin Prunes. Ela acabou nesta casa de repouso maravilhosa, onde eu e meus dois irmãos a visitávamos três vezes por semana. Um dia, cheguei e lá estava ela, sentada em seu quarto, com esmalte preto, batom preto e delineador azul... Ela se tornou uma Virgin Prune novamente".
"Lady Esquire" é sobre as propriedades alucinógenas de uma marca de graxa de sapato dos anos 1970 que as crianças cheiravam ("Estamos na colina perto das Sete Torres. Ei, cara, você quer ver os prédios dançarem?").
As Seven Towers são as mesmas citadas na letra de "Running To Stand Still" do U2 no álbum 'The Joshua Tree' de 1987.
Um dos momentos mais marcantes do álbum é "Stations Of The Cross", dedicada a Sinéad. Tanto ela quanto Friday tiveram suas próprias experiências com a Igreja Católica na Irlanda, a dela muito mais traumatizante do que a dele, e ambos usaram a iconografia católica em seus trabalhos desde o início.
"Essa imagem católica está no meu DNA", diz Friday. "Se você entrasse em um determinado cômodo da minha casa, pensaria que eu era um padre".
A Igreja já expiou ou poderá expiar seus pecados? "Acho que todos têm que expiar e podem", diz Friday. "Essa pergunta é como colocar um atiçador no fogo comigo. Eu convidei a Sinéad para cantar a Via Sacra comigo. Quando 'Catholic' foi lançado, ela me ligou e perguntou: 'Por que você não me chamou para cantar?', e eu respondi: 'Por que da última vez você não apareceu?'.
De qualquer forma, fizemos alguns shows em Dublin durante a turnê de 'Catholic'. Eu a encontrava por Dalkey ao longo dos anos e dizia que tinha uma música que ela talvez gostasse, e ela disse que cantaria comigo. Isso foi antes do lockdown e, impiedosamente, o filho dela faleceu e depois ela faleceu. Sinead quase foi açoitada na coluna e coroada de espinhos por causa do que fez com aquela imagem do Papa e depois tratada de forma realmente injusta pela mídia em todo o mundo, especialmente nos Estados Unidos. Ela foi uma das primeiras pessoas a realmente confrontar a questão da saúde mental publicamente. Ela estava vivendo isso, infelizmente.
Quando uso imagens religiosas, não é desrespeitoso. Uma pessoa de trinta anos na Irlanda hoje não entenderia do que estamos falando, o que aconteceu nos anos 60 e 70, e só Deus sabe o que aconteceu nos anos 50. Vivíamos em uma ditadura".
A raiva de Friday se transforma em uma fúria apocalíptica com o retorno de Trump.
"Todo mundo acordou pensando 'porra, se esse cara voltar, o que vai acontecer...?' Estou com muito medo. Também me preocupo com Putin. Infelizmente, vejo o Oriente Médio como um problema eterno. Não acho que isso vá ser resolvido. Tanta merda está surgindo ao mesmo tempo".
O que parece um bom momento para perguntar para Gavin Friday o que ele achou do silêncio percebido de Bono sobre a Palestina...
"Acho que o cara vai dizer alguma coisa, mas há tanto barulho por aí. Não importa o que ele diga, eles vão atrás dele e eu não quero que isso seja a manchete, mas é mais ou menos assim. Ele está profundamente estressado com tudo isso, eu sei disso. Mas não sei o que dizer... Acho o que a Irlanda está fazendo bastante admirável. A extrema esquerda na Irlanda acha que não é admirável o suficiente, mas o mundo lá fora é complicado.
Minha conclusão é esta: os seres humanos precisam conversar. Conversem uns com os outros, não conversem com o Facebook ou o Instagram".