Lobão em 2008, quando lançou seu Acústico MTV, disparou contra os anos 80, diz que foi um período medíocre, que Legião Urbana é banda de escola pré-primária e que Renato Russo copiava as letras de Bob Dylan e o som do U2.
"Renato Russo não tem muito a ver com a gente não. Primeiro porque eu e Cazuza somos um pouquinho mais velhos. Eu não me considero dos anos 80 porque eu comecei em 75, trabalhando com banda de rock progressivo. Eu faço questão de não ser dos anos 80 porque acho uma porcaria...
Não acho ruim. Acho péssimo. É uma das coisas mais medíocres que já foram produzidas no Brasil, porque todo mundo copiou todo mundo. Você conhece alguma coisa que seja original, exceto eu, Cazuza e Júlio Barroso? Eu não conheço. É tudo cópia do Police, The Smiths, The Cure, Duran Duran... Todo mundo copiou isso. É cópia de clipes, letras. É uma sem-vergonhice. Acho uma sem-vergonhice os anos 80. Claro que se você pegar Os Inocentes, Picassos Falsos, Finis Afrika, todas essas bandas underground dos anos 80 são muito criativas. Mas o que veio para o mainstream é lamentavelmente ruim. Eu não tenho a menor dúvida quanto a isso.
Se todo mundo estava imitando o The Police, o U2, eu vou tocar com a Mangueira.
Renato era um cara articulado, habilidoso. Mas as letras todas eram baseadas nas letras do Bob Dylan. Principalmente da fase católica do Bob Dylan. Tá na cara. Ou nas letras daquele menino do The Smiths. Era muito parecido. O som era igual ao do U2. Apesar de ele ser um bom letrista, não posso considerá-lo da mesma estatura do Cazuza, que era realmente original. Ou de um Júlio Barroso que, antes de original, era genial. É um patamar bem diferente do Renato. O Renato fazia um folclore muito fake em torno dele. Apesar de eu o achar uma pessoa querida. Mas não posso historicamente relevar isso. É muito pífio, é muito aquém da minha exigência. Que ninguém nos escute: mas o Legião Urbana parece uma banda de pré-primário. Apesar de ser uma das melhores.
Medíocres. Sonoridade ruim. Isso é até o de menos. O que acho pior é você reconhece naquela sonoridade uma coisa que foi chupada descaradamente de algo contemporâneo, que está acontecendo na hora. É diferente de você pegar uma coisa e fazer uma releitura conceitualmente artística de uma época. Agora, você está no hit parade, o primeiro lugar é The Smiths, ou U2, ou The Police, e o que tem aqui do lado é uma subsidiária fazendo a mesma coisa é constrangedor. Você vê que o The Police vem tocar e o cara fica ouvindo chorinho no camarim (risos). Porque ele vai ouvir uma coisa que não tem originalidade nenhuma. Isso é constrangedor porque tivemos um momento muito rico e propício nos anos 80 de refazer coisas que a gente estava lutando contra, que era contra a MPB. Queríamos tirar aquela coisa vetusta da MPB. Tivemos azar porque o primeiro cara que morreu foi Júlio Barroso, que era uma grande cabeça, articulador. Então, sobrou uma média dúzia de pessoas bem medíocres, fazendo coisas medíocres. E foi isso que os anos 80 não aconteceram. Tanto é que nos anos 90, apesar de ter havido uma diminuição enorme de produção de rock´n´roll em prol de axé e pagode, nós temos uma geração melhor: Chico Science, Cássia Eller, Raimundos, Planet Hemp. Você já vê que é uma geração mais original e articulada que a dos anos 80. E as pessoas ficam achando que os anos 80, não sei porque cargas d´água, são fantásticos, numa nostalgia mórbida. Pode ser que os anos 80 foram ingênuos, todo mundo se divertiu, ok. Mas que foram medíocres, isso é incontestável".