Quando Frank chegou até o estúdio para fazer seus du-bi-dus, ele teve a mesma reação que tiveram muitos críticos de música sobre esta idéia: "O que é isso? Por que deveria gravar canções que eu já havia gravado antes?" Ramone e Rubin rogaram e o bajulavam e Sinatra fez uma tentativa, mas a primeira noite acabou mal. O cantor saiu mais cedo com muito mal humor, deixando Ramone num ânimo ainda pior. O convenceram de ir novamente e prometeram não pedir-lhe para cantar qualquer canção mais que duas vezes. Sinatra, sob sua pose de durão, inseguro sobre o interesse de seu público, entregou um excelente trabalho. Ramone tocou uma versão mal-assombrada de "One For My Baby (And One More For The Road)". Bono destaca que quando Sinatra gravou pela primeira vez esta música na década de 1950 ele estava olhando para a estrada à frente. Agora ele está olhando para a estrada que percorreu.
"Tenho 33 anos", Bono diz a Ramone, "e eu estou começando a ter uma idéia do que é esse caminho. Frank já sabe".
Bono se senta em um pequeno sofá na sala de controle, pega um microfone e diz: "Vamos fazer um mapa". Durante a hora seguinte, ele canta a canção de cinco maneiras diferentes. Em uma delas ele faz tudo em falsete, em outra ele murmura de forma meio louca, como na regravação de "Night And Day", de Cole Porter que o U2 fez em 1990. A terceira vez ele canta todas as suas linhas com um atraso, de modo que elas fazem eco às de Sinatra. A quarta vez, quando o arranjo instrumental surge, Bono desencadeia um alto e ressonante solo, soando como soaria Margaret Dumont se ela engolisse uma trombeta. Don Rubin quase pula da cadeira surpreendido.
Ramone gosta da primeira parte do solo estilo trompete de Bono, mas acha que ele perde o fio até o final. O produtor pede ao cantor para repensar a conclusão e Bono lhe diz para reverter a fita e ouvir isto: Bono se transforma em Gavin Friday, bailando ao estilo Brechtiano ‘la la la’ como se fosse um soldado nostalgico balançando uma jarra de cerveja na Casablanca. É tão exagerado que se torna perigoso; seria fácil para um ouvinte não familiarizado com Bono, pensar que ele estava apenas gozando, uivando como um bêbado em Vegas em pleno show de Dean Martin.
Ramone e Rubin acabam rindo. Eles parecem tão complacentes e impressionados que Bill Flanagan se pergunta se eles estão sendo sinceros. Ramone é um grande urso beatnik de barba grisalha. Rubin é leve e meticuloso, impecavelmente vestido para o verão com calças, suéter claro, meias claras e sapatos claros. (Ele explicou o que usou para produzir Bobby Darin com uma gravidade histórica perdida com Bono.) Se estes dois sairem e trabalharem em um mix final, que inclua algumas das excentricidades de Bono, esta será uma estranha e interessante faixa, algo como um pequeno texto secreto de música pop com a voz de Bono servindo de contraste que comenta e acentúa a voz de Sinatra. Mas os dois velhos produtores poderiam estar simplesmente cedendo a estrela do rock para que eles possam ir para casa e delinear juntos um dueto convencional.
Ramone sugere que Bono vá almoçar enquanto ele monta um esquema de mixagem.
Agradecimento: Forum UV Brasil