A banda brasiliense Bootnafat e o rapper Gabriel O Pensador conseguiram, no máximo, ensaiar um início de festa antes da entrada do quarteto irlandês. A turma do axé baiano, absurdamente cogitada inicialmente para a missão de abrir os shows do U2 no país, obteria um resultado catastrófico, sob o risco de serem expulsos por uma chuva de ofensas e de copos de água. Graças à Deus que as escolhas foram menos pior.
Inicialmente, a idéia de se fazer um show de música baiana foi do sem noção Franco Bruni. O produtor chegou a enviar para os integrantes do U2, CDs e material de divulgação de Daniela Mercury, Carlinhos Brown, Olodum e Novos Baianos. Mas enviou também o material promocional de Gabriel. Segundo Bruni, os integrantes do U2 gostaram da idéia do show de música baiana, mas acabaram optando por Gabriel por já conhecerem seu trabalho. Um ano antes, o rapper esteve com os produtores do U2 em Portugal, durante a montagem do palco para um show da banda.
"O meu produtor conhecia os produtores dele e me levou até lá", lembrou Gabriel. Segundo Bruni, quando os técnicos que montavam o palco viram Gabriel, pararam de trabalhar para pedir autógrafos ao cantor, cujas músicas fazem sucesso em Portugal. "Isso acabou chegando nos ouvidos da banda", afirmou o produtor. Na ocasião, Gabriel ganhou dos produtores do U2 uma camiseta da turnê.
O Bootnafat não deu nem para o cheiro. Vencedor da edição do Skol Rock em 1997, o grupo abriu os três shows do U2 baseando seus sets de 20 minutos em covers e músicas próprias, incluindo a campeã "Esses Caras".
Tanto nas versões de canções dos Raimundos e Rage Against The Machine quanto no mix de funk e rock pesado de suas composições, a banda não conseguiu convencer em nenhum momento, apesar dos esforços de seu vocalista. De volta para a garagem, e rápido.
Amparado pelo milhão de cópias vendidas de seu último disco e uma penca de hits tocando nas rádios, o rapper carioca Gabriel O Pensador não precisou suar tanto para arrancar algum entusiasmo da platéia.
Em 50 minutos de apresentação, abusou no funk/hip-hop pesado, base de sucessos dos seus álbuns na época, e algumas tinham o refrão entoado por quem ainda não tinha sido consumido pela impaciência. Esses provalvemente desabafaram na última música, intitulada "Filho da Puta".