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domingo, 2 de abril de 2017

Um bate papo com o designer Steve Averill


O site U2 BR realizou um bate-papo via e-mail com Steve Averill, o designer das capas de singles e álbuns do U2. Na conversa, além de algumas curiosidades sobre a sua trajetória e processo criativo dos seus trabalhos, ele conta sobre seu primeiro contato com o U2, a sua impressão, o porquê do nome U2, seus principais trabalhos, 'Songs Of Experience', o futuro, entre outros assuntos. Leia a seguir a íntegra da entrevista de Steve ao U2BR.

Como você conheceu a banda? Como foi a aproximação? Qual foi a sua primeira impressão sobre eles e sobre o som que faziam? Em algumas entrevistas, você contou que quando teve o primeiro contato com o U2 eles ainda não haviam definido que tipo de banda queriam ser, que estavam um pouco perdidos. O que o levou a insistir neles nesse período tão conturbado? Como a relação entre vocês se estabeleceu?

Eu conheci primeiro Adam Clayton, através do meu irmão Mark que estava no mesmo ano de Adam na escola. Adam estava interessado na minha banda The Radiators From Space e queria me perguntar sobras minhas experiências e pedir por conselhos para sua banda, até então conhecida como The Hype. Eles estavam em um estado nebuloso naquele momento e sem a certeza de que direção seguir. A minha primeira impressão é de que eles tinham um grande potencial, mas tinham um pouco de insegurança sobre si mesmos. No entanto, os quatro membros tinham uma integração que podia ser trabalhada em conjunto para desenvolver uma perspectiva musical interessante, visto que eles estavam vindo de uma atitude pós-punk.

E o nome, U2? Por que essa escolha, de onde veio a ideia? Houve outras sugestões?

A ideia inicial veio de Adam, dizendo para mim que ele gostaria de um nome como “XTC”, que poderia significar várias coisas. Depois de pensar em alguns nomes eu optei por U2, sabendo do seu uso em coisas como o avião espião de Gary Powers ou outras como as pilhas fabricadas pela Eveready daquela época. Eu também estava ciente da universalidade e do potencial gráfico de uma letra e um número. Foi dito que eles pegaram o nome de uma lista de opções, isso não é verdade. Havia apenas uma opção que realmente servisse. No entanto, eu dei a eles outros nomes em potencial que eu tinha anotado em um caderno, para ver se havia algum que os chamasse a atenção, embora eu particularmente sentia que nenhum deles era apropriado.

Você trabalhou com alguma outra banda em início de carreira também? Na época que conheceu o U2, algum outro artista/banda te impressionou? Você conseguiu imaginar no começo a magnitude que o U2 teria? Havia alguma coisa que os destacava dos demais?

Naquela época, minha principal contribuição com trabalhos gráficos musicais era para o The Radiators From Space, embora eu também tenha trabalhado com bandas como The Blades e Virgin Prunes no começo da minha carreira. Acredito que o se destacou no U2 naquela época foi sua energia e atitude. Em particular, a sua vontade de procurar por conselhos, não apenas de mim, mas de muitos outros como o grande jornalista Bill Graham da Hot Press. Eles ouviam e então voltavam e diziam que concordavam com esta parte, mas não com aquela parte, ao invés de ir com tudo ou simplesmente rejeitá-la. Era como uma relação muito colaborativa e mutuamente respeitosa.

O 'The Joshua Tree' completou 30 anos de lançamento este mês. O que a banda buscava para capa? Como o símbolo da Joshua Tree tornou-se apropriado para o momento?

O título inicial para o trabalho era 'The Two Americas', o que contemplava ambos aspectos real e mítico de um lugar culturalmente influente. Nessa luz, Anton Corbijn procurou vários locais que poderiam se encaixar nesse conceito. A locação da contracapa e do interior da capa era de uma única e solitária Joshua Tree (árvore de Josué, uma espécie de árvore que cresce quase que exclusivamente no deserto de Mojave, nos EUA, mas também pode ser encontrada em outros locais nos estados de Arizona, Utah e Nevada) que havia sido vista por Anton no caminho para outro destino. Quando os negativos das fotos foram vistos e as imagens escolhidas, e dado que o título do álbum também fora determinado, foi um movimento lógico fazer da árvore um símbolo para representar o trabalho. O primeiro uso da silhueta foi na verdade nas etiquetas para o vinil.

Falando novamente mais um pouco sobre o início da carreira da banda. “Boy” e “War” são duas capas com um layout relativamente simples, mas ambas com imagens muito fortes. Como surgiu a ideia de trazer de volta Peter Rowen para o terceiro álbum e também usá-lo novamente na capa da primeira coletânea de hits do U2?

Quando o título de 'War' foi decidido para o terceiro álbum, uma série de opções foi considerada, a qual incluía usar a fotografia de alguém como Donald McCullin (Sir Donald McCullin é um fotógrafo britânico reconhecido especialmente pelas suas imagens de guerra). Mas no final eu senti que isso poderia ser muito específico e levar o conteúdo a um lugar representado pela fotografia em questão. Então, eu pensei em me voltar para a ideia de que a guerra vista através dos olhos de alguém afetado por ela poderia ser mais interessante. Eu descrevi uma cena que eu tinha visto, tanto em um filme como em uma imagem estática, de algumas crianças sendo cercadas durante a Segunda Guerra, eu acho que no Gueto de Varsóvia por soldados alemães e havia o close do rosto de um garoto que refletia o terror que estava sentindo. De qualquer modo, era esse o núcleo da ideia. Depois de alguma discussão foi decidido usar Peter Rowan novamente já que ele tinha uma rosto fortemente expressivo, e nós gostamos da ideia de continuação da história.

Falando em 'Boy', o U2 já sofreu polêmicas logo na capa do seu álbum de estreia, o que acabou se repetindo também em outros trabalhos, especialmente na capa do último disco 'Songs Of Innocence'. O que você acha sobre os comentários a respeito desses trabalhos?

Eu realmente não me preocupo com esse tipo de comentários com muita frequência, de qualquer modo as pessoas vão sempre ter o seu ponto de vista sobre as imagens que veem.

A capa de 'Achtung Baby' é uma colagem de grandes imagens, pesquisa de material e uma das mais elaboradas do U2, porém a lenda é de que a ideia original seria colocar Adam nu na capa do disco? Isso é verdade ou apenas mais uma das lendas envolvendo a banda?

As ideais inicias para a capa de 'Achtung Baby', algumas das quais aparecem em 'Stealing Hearts At A Traveling Show' (livro lançado em 2003, por Lisa Godson, sem edição em português e que traz detalhes sobre o trabalho visual do U2), incluíam uma imagem simples ou dupla, mas a medida em que a musicalidade do álbum ia se desenvolvendo tornou-se claro que nenhuma imagem simples era suficiente para expressar a mudança na direção musical e na atitude que banda havia feito. A imagem de Adam nu foi discutida como uma das tangentes, quando a opção de nomear o álbum apenas de ‘Adam’ foi colocada, mas esses títulos e imagens iniciais mudaram quase que diariamente no começo.

Falando um pouco do processo criativo mais diretamente, como acontece a elaboração da capa? Todos os processos são iguais ou dependendo do trabalho funciona de forma diferente? Geralmente ele acontece em qual período?

O processo criativo é uma coisa fluida que depende de variantes como o tempo, orçamento, interação criativa ou o envolvimento de partes que vão além do próprio. Além disso, no caso do U2, o 'Boy' foi um processo muito mais simples do que 'Songs Of Innocence'.

Como é a troca de ideias, a percepção? A banda é aberta a sugestões? E como fica o embate entre a parte técnica e a subjetiva?

A banda é sempre fundamental para a direção criativa que um encarte do U2 vai ter. No caso deles, o manager e aqueles próximos a banda, como o produtor do álbum em particular, podem participar do diálogo, mas, raramente, o ponto de vista da gravadora é considerado. Os aspectos técnicos da capa são onde o departamento de produção da gravadora torna-se mais envolvido, já que todos os aspectos de impressão e fabricação precisam ser considerados.

O U2, especialmente Bono, fala muito sobre relevância; continuar até que sintam que ainda têm algo o que falar. Você acha que a banda tem planos de aposentadoria delimitados? Ou que irão continuar atuando enquanto puderem achar que têm algo a acrescentar ao mundo?

Eles sempre foram uma banda que olham para frente ao invés de para trás. Eles sempre gostam de ver seu melhor trabalho como o que está a frente deles ao invés de atrás. No caso do “The Joshua Tree”, o assunto básico de muitas canções tem tanta ressonância agora como antes, quando o álbum foi lançado.

E no meio de tantos trabalhos, você tem algum favorito? Se sim, qual e por quê? E se pudesse mudar alguma capa, algum trabalho, qual seria? O que mudaria?

Até certo ponto, as capas que mais impactaram os fãs e a crítica, também conseguiram um certo respeito. 'Boy', 'War', 'The Joshua Tree' e 'Achtung Baby'. Todos têm um lugar especial para mim por uma variedade de razões.

Para finalizar, pensando no futuro. Mesmo você tendo se aposentado em 2015 da AMP Visual, se o U2 lhe chamasse para fazer a capa de 'Songs Of Experience', você a faria? Houve algum contato? Aliás, você já ouviu algo do novo disco?

O design de 'Songs Of Experience' ficará a cargo do meu colega de longa data Shaughn McGrath, que trabalhou comigo desde o “Achtung Baby” e tem uma forte compreensão da linguagem visual do U2. Eu não ouvi nada do novo álbum ainda, mas como muitos fãs espero ansioso pela música e capa. Eu não me aposentei no verdadeiro sentido da palavra, ainda estou muito ocupado com o trabalho, me aventurando em novos campos, e a porta está sempre aberta.
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