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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Capítulo 6: The Lypton Village e a 'boa voz'

Basicamente o que o punk fez explodir foi a raiva de outros garotos que não tinham emprego, perspectiva de uma vida melhor e que estavam cansados de ouvir grupos que não mais os representavam. Bandas com Led Zeppelin, Pink Floyd, Genesis não tinham a menor conexão com que a população jovem da Inglaterra e da Europa vivia. E foi decretado que não era preciso saber mil acordes por minuto para ser um músico ou formar uma banda. Para ser punk bastava ter raiva, desprezo pelo governo e por músicos multimilionários que moravam em seus castelos ou mansões e tocar três acordes, ainda que não fossem os corretos. Foi nesse contexto que Sex Pistols, The Clash, The Jam, Buzzcocks e outras bandas tomaram conta do mundo, para horror de muitos.
E Paul tinha muito em comum com a ideologia. Desde a morte de sua mãe, sua vida estava cada vez mais caótica. Seu lar era apenas uma casa onde dividia o mesmo teto com seu pai e seu irmão, Norman. Não havia harmonia ou conversa. Paul não fazia mais as tarefas domésticas que eram sua obrigação. O único lugar que se sentia à vontade era a rua. E foi nela que conheceu um grupo de garotos que se auto-denominava como “The Lypton Village”. O Village começou a fazer reuniões diárias na casa de Paul durante o dia, quando seu pai, Bobby, e Norman iam para o trabalho. Mas elas sempre acabavam em tumulto, pois Norman ficava irritado ao entrar em casa e encontrar baganas de cigarro, copos e latas de cerveja por toda a sala. Invariavelmente os dois irmãos começavam a discutir e às vezes sair literalmente no tapa. O auge dessas discussões aconteceu quando Paul arremessou uma faca em seu irmão, que viu a mesma alojar-se na porta da cozinha, passando de raspão por sua cabeça.
Sua única companheira era Maeve O'Regan, com quem passava horas e horas conversando, falando sobre a perda da mãe ou sobre qualquer assunto. E para piorar mais sua angústia, Paul estava no último ano escolar e suas notas haviam despencado muito e seu interesse pela vida acadêmica era praticamente nulo. Seus amigos do Mall, gostavam dele, embora considerassem Paul um garoto difícil. Seu clube de música, The Web, foi desfeito após seu namoro com Zandra. Apenas dois assuntos despertavam algo dentro dele: música e religião. Ele já estava em uma banda. Resolveu então ingressar em um grupo de estudo religioso da escola, a Mount Temple Christian Union, que se reunia todo sábado pela manhã. E Paul adorava essas aulas, tentando aprender e procurar uma explicação para seus medos e dúvidas.
A tensão diminuiu quando o Feedback, após longa procura, encontrou um local para fazer seus primeiros ensaios, já que não poderiam continuar tocando na cozinha da casa de Larry. Através de um professor da Mount Temple, Donald Moxham, conseguiram uma sala dentro da escola, onde começaram a ensaiar três vezes por semana. No início tentaram tocar canções de David Bowie, Rolling Stones, Sex Pistols, Elvis Presley e Beatles. Paul, Larry, Adam, Dave e Dik tentavam encontrar uma unidade em comum, já que jamais haviam sido sequer amigos. Dentro do Feedback havia m duas claras divisões: Larry e os irmãos Evans eram calmos, sérios e queriam viver como músicos. Adam era impulsivo e preferia sair com garotas, beber e fumar do que confiar em sua limitada capacidade musical. Estar em um grupo era muito mais para se mostrar do que realmente levar à sério. Adam não estava confiante sobre seguir a vida como um músico profissional. E Paul? Bem, seus problemas eram maiores do que os dos demais. Por ser mais velho e estar no último ano letivo, Paul teria que fazer o exame final em junho de 1977. O que mais o atormentava era qual rumo seguiria em sua vida adulta. Estava claro para ele que não ingressaria em uma universidade se não melhorasse suas notas. Seu sonho estava relacionado com música, textos e artes, em geral. Ele sabia que sua rebeldia precisava ser controlada. E seu coração também, já que havia se apaixonado por uma garota da mesma turma de Dave e Adam, Alison Stewart. Paul tentou usar as mesmas armas de sempre: muita simpatia, piadas e mostrar ser um cara descolado. Alison não dava bola, mas gradualmente ia simpatizando mais e mais com aquela figura tão comentada dentro da Mount Temple. Alison, como todas as mulheres que o conheciam ficaria confusa pelas várias personalidades que ele demonstrava, sendo às vezes um bagunceiro, às vezes um intelectual, às vezes um apaixonado pela religião e, na maior parte do tempo, um garoto perdido.
Quando Bobby, nas poucas vezes em que conversava com seu filho, perguntava para Paul o que ele faria após sair da escola, seu caçula respondia que gostaria de entrar em uma universidade. Bobby não acreditava muito nessa possibilidade. Suas notas não eram boas e para piorar, os novos amigos de Paul haviam feito do lar dos Hewson um clube diurno. Várias vezes Bobby deixou claro que não gostava de ver aquele bando de garotos vestidos como malucos em frente à sua casa. E particularmente um deles provocava arrepios em toda a vizinhança: Fionán Hanvey. Esse garoto que vivia brigando na rua por gostar de se vestir com roupas femininas, apesar de nunca ter sido gay acabou fascinando Paul. Fionán era calmo, inteligente e corajoso por andar com trajes que provocavam deboche e provocação de outras pessoas, mas nunca fugia de uma briga quando provocando, ainda que soubesse ser impossível sair vencedor. Para tentar fazer amizade com essa estranha figura, Paul o abordou falando sobre David Bowie, vendo um broche do cantor em sua jaqueta. Acabaram ficando amigos. Apesar do Village não ter um líder específico, Paul e Fionán acabaram centralizando as atenções. Além dos dois, Derek e Trevor Rowen, Reggie Manuel, Anthony Murphy, David Watson, Skello e Niggles formavam o grupo. De todos o mais esquisito era David. Quando criança havia contraído menigite, ficando fisicamente limitado e com problemas de fala e com um olhar perturbador. Mesmo assim David era alegre, inteligente e grande colecionador de discos. Nas reuniões na casa de Paul, acabaram criando um mundo particular, onde questionavam os modos de vida dos outros jovens. "Muitos casam com 20 anos, carregam quatro filhos com 25 e aos 30 anos uma bela barriga de cerveja. Não deixaremos que a vida desses panacas seja modelo para a nossa", decretava Fionán.
Para mostrarem que eram diferentes acabaram criandos personas. Fionán virou Gavin Friday, já que odiava seu nome de origem gaélica. Derek virou Guggi por causa de seu lábio inferior caído; Trevor era chamado de "The Strongman" por sofrer de asma e David Watson virou Day-Vid, por sua fala lenta e arrastada. Anthony virou Pod, inspirado no personagem Sir Poddigton, bravo cavaleiro dos romances britânicos. Reggie virou primeiro Cocker Spaniel, e conseqüentemente rebatizado de Bad Dog. E Paul? Bem, certo dia Trevor estava andando pela rua quando viu em uma loja um aparelho chamado Bonovox à venda. Intrigado, perguntou o que seria aquilo e quando foi informado que se tratava de um aparelho para surdez, Paul virou Bonovox of O'Connel Street, local onde ficava a loja. Assim como Pod, foi encurtado para Bono. Paul não gostou do nome no início, mas começou a aceitá-lo melhor quando descobriu que em latim, bonovox, significava “boa voz”.

agradecimento: www.beatrix.pro.br/mofo
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