O Tears For Fears lançou seu primeiro álbum de inéditas após quase 20 anos. Em 'The Tipping Point', as novas músicas refletem os pontos de virada que os dois membros, Curt Smith e Roland Orzabal, tiveram nas últimas décadas.
O processo de composição e gravação foi uma forma do vocalista, guitarrista e tecladista Roland Orzabal lidar com a morte da esposa, ocorrida em 2017.
Por conta dos problemas de saúde, Caroline tomava medicações que não podiam ser misturadas com álcool. Mas o vício a impediu de realizar o tratamento de forma correta.
Com o tempo, Caroline desenvolveu demência relacionada ao álcool. Roland Orzabal a acompanhou como cuidador nos últimos cinco anos de vida.
Após o falecimento de Caroline, Roland se internou em uma clínica de reabilitação para tratar de seus problemas. Logo a seguir, recorreu a Curtis Smith, seu parceiro artístico de longa data no Tears For Fears.
"Infelizmente, Roland passou por um período bem difícil em que perdeu a mulher. E aí olhamos para o mundo em volta e lá estavam a pandemia, o movimento #MeToo, o Black Lives Matter e o crescimento político da direita, personificada por essas figuras masculinas com tendências ditatoriais. "No Small Thing" fala da crise climática, da pandemia, de não poder ver as pessoas que se ama. "Tipping Point" é Roland sobre Caroline. E "Break The Man", sobre o meu desejo de que haja uma maior igualdade para as mulheres. Tenho duas filhas e espero que tenham voz política. Não me surpreende que esse crescimento recente da direita seja 100% liderado por homens".
Pop alternativo melódico abordando temas existenciais marcou o Tears for Fears como único. Ou quase único. Ao pesquisar o cenário pop dos anos 1980, Orzabal viu um outro grupo potencialmente vindo do mesmo lugar – o U2, que, em seus primeiros anos, era movido por suas crenças cristãs tanto quanto o Tears for Fears por sua paixão por Janov.
"Nós éramos evangélicos sobre isso. Queríamos mudar o mundo e acreditávamos que essa era a resposta", diz Orzabal. "A única banda com a qual posso fazer uma comparação a esse respeito é o U2".
"O nosso era Janov", acrescenta Smith. "Deles era Deus".
Orzabal: "Acontece que nós éramos bons nisso. Concordo, havia muitos de nossos pares, eu me esforcei para realmente saber do que eles estavam falando. E havia algumas bandas que eram extremamente apaixonadas, bandas como Joy Division e U2. Eu acho que acontece que estar em uma dupla com Curt significa que parece certo, absolutamente essencial que nós olhemos para o que está acontecendo dentro de nós. E eu não sei bem como a psicologia funciona. Logo no início, estávamos unidos em torno de uma coisa chamada teoria primal, em homenagem a Arthur Jonov, que escreveu Primal Scream. Nós dois nos sentíamos um pouco como vítimas de nossas infâncias, vítimas de nossos pais. A coisa maravilhosa sobre a teoria primal é que ela diz, em certo sentido, que a criança nasce uma lousa em branco. A criança é inocente. E, portanto, para nós, foi perfeito porque poderíamos culpar nossos pais por tudo".