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quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Capítulo 30 - Do início novamente

Outono de 1990.

Bono conduziu a banda e todo seu staff para ensaiarem novas composições no legendário estúdio Hansa, onde Bowie, Lou Reed, Iggy Pop e tanta gente gravaram discos históricos.
As brigas começaram logo cedo. Após não terem lugar algum para ficarem, os quatro ficaram jogados em um hotel barato da cidade, que celebrava a entrada nos anos 90 com a Queda do Muro de Berlim.
Mas nada funcionava e os quatro começaram a bater boca. Edge e Bono acusavam Larry e Adam de não fazerem suas lições de casa e os dois rebatiam que não havia lição porque os dois não tinham escrito uma só linha aproveitável. Houve então um tremendo bate-boca do que eles buscavam. Irritado, Bono disse que queria fazer algo na linha Madchester, modernizar o som. Adam exasperou-se. Amante das bandas dance, mandou Bono calar a boca porque a cena inglesa já era passado. Bono disse que ele era um preguiçoso e que não praticava seu instrumento. Adam pegou o baixo, deu a ele e disse: "tome, me mostre uma nova canção. Uma só, e eu trabalharei em cima dele." O cantor, calou-se.
O bate-boca continuava. E aumentou quando conseguiram, finalmente, entrar no Hansa. Ou no que havia sobrado dele. Uma ruína foi tudo o que encontraram. Tudo deteriorado, embolorado, nada funcionava. A coisa era tão grave, que precisaram mandar trazer toda a estrutura da Inglaterra. Tempo e dinheiro perdidos. E o desespero aumentava. Nada vezes nada. Tentativas vãs. No desespero, Daniel Lanois pegou uma guitarra e tentou improvisar alguma melodia em cima das novas letras, mas no clima errado, soando como Rattle and Hum. "Meu Deus, acabou tudo!", pensou The Edge.
Na verdade, o grupo já havia começado a trabalhar em duas frentes separadas ainda mesmo em 1990. Primeiro, foi o baterista Larry Mullen que compôs o hino da Irlanda para a Copa de 1990, na Itália, Put 'Em Under Pressure.
A música deu sorte, pois a Irlanda só caiu nas quartas-de-final para os anfitriões, após quatro empates consecutivos em um grupo que reunia os favoritos Inglaterra e Holanda.
A segunda frente era para uma causa mais nobre, a AIDS.
Em novembro de 1990 foi lançado o disco-duplo Red Hot + Blue: A Tribute to Cole Porter, em que vários artistas escolheram uma canção do falecido compositor norte-americano Cole Porter para o projeto. E o U2 escolheu a canção 'Night And Day'.
Apesar de serem a banda mais famosa do disco, não coube ao U2 ter a primazia de ser a primeira música de trabalho do projeto. A escolhida foi a versão de "I've Got You Under My Skin", de Neneh Cherry.
A estadia em Berlim começou a render alguma coisa e a banda, aos poucos, ia concatenando idéias. E a chegada de Brian Eno foi providencial para tudo isso.
Eno foi chamado quando tudo era nebuloso. Colaborador do U2 desde 1984, foi ele quem havia trazido Daniel Lanois, que havia se tornado um "quinto membro não-oficial do U2".
Mas Lanois estava perdido, especialmente por causa do racha Bono/Edge x Larry/Adam. The Edge, que era sua grande conexão dentro da banda, estava ressentido com o produtor e essa mágoa demorou ainda um longo tempo para se dissipar.
"Eno é a pessoa com que Bono e Edge conseguem se conectar, porque ele não é fiel por muito tempo a uma filosofia", explicou Adam. "Se você quer algo diferente ele apenas diz 'então vamos agir dessa maneira'. É totalmente o oposto de Lanois que diz 'ok, vocês querem soar assim, mas eu sou um produtor que trabalho assim e vocês fazem dessa maneira devemos tentar o que já fizemos antes", finalizou o baixista.
Tudo começou a clicar em uma noite em que estavam brigando com a canção "Ultra Violet". Enquanto Edge tentava ajeitar a melodia, Bono começou a cantar uma linha que estava na sua cabeça: "We're one but we're not the same - we get to carry each other, carry each other". Nada menos do que o refrão de "One", que nasceu quase ao acaso.
Em 10 minutos, a canção tomava forma e o grupo saiu do estúdio satisfeito, após uma dura noite de trabalho. Estavam progredindo.
Adam diz que a banda possui uma maneira peculiar de trabalhar: "geralmente gastamos 90% do nosso tempo em 30% do álbum e os outros 70% surgem incrivelmente rápido."
Essa maneira caótica, em parte, acontece porque Bono sempre deixa as letras para serem escritas quando ele deve colocar a voz nas canções.
Após isso e gravar mais algumas demos, o grupo resolve voltar para Dublin e retornar à Alemanha no final de janeiro de 1991.
No Natal de 1990, os quatro sentaram para ouvir as demos e perceberam que tinham feito coisas boas e que muito trabalho os esperava.
Em janeiro voltaram para Dublin, no exato momento em que o Iraque invadiu o Kwait. Via CNN, os integrantes viam a Guerra do Golfo estourando. Bono estava fascinado com o poder da televisão e queria saber se seria possível transportar essa nova realidade para o disco e show.
Durante os trabalhos em Berlim, Bono começou a pensar no que queria. Sua idéia era de ter um disco que soasse pesado, com elementos de eletrônica, com a bateria de Larry sobressaindo-se. Um disco com muito ritmo, já que segundo o cantor, "o ritmo é o sexo da música".
Em um dia de folga, o vocalista levou todo mundo para o zoo de Berlim para falar sobre uma idéia. Ele queria que o zoo retratasse a nova realidade, na qual os homens vivem feitos animais encarcerados no mundo digital. E Bono queria saber como manipular imagens ao vivo em um show, com uma tela gigantesca, controle remoto, etc. Uma senhora idéia e um senhor problema.
Mas os tempos também eram duros. The Edge estava deixando sua esposa Aislinn. Há quem jure que parte dessas agruras estão em "So Cruel". A banda nega.
Perdido, pediu refúgio para Adam Clayton, único solteiro entre os quatro e, teoricamente, a pessoa mais distante dele no U2. "Eu realmente nunca fui muito próximo a Adam e fiquei muito grato quando ele me recebeu de braços abertos."
O grupo acabou trazendo Daniel Lanois, Eno, Flood e Steve Lillywhite para produzirem e mixarem as músicas. Cada um deles mixou uma música de certa maneira para que escolhessem quais faixas soavam melhor. O que o U2 fez foi cruel: escolhiam partes das várias mixagens e pediam para que fossem colocadas juntas.
E havia uma parte muito importante: o visual. Estava claro que eles não podiam se vestir mais como nos anos 80. Em uma passagem que até virou piada entre eles, Bono se lembra quando foram assistir um show de Frank Sinatra, em Las Vegas.
Sinatra parou o show para saudar a "maior banda de rock do mundo da atualidade". Quando viu os quatro se levantarem e vestidos como mendigos, lascou: "tão ricos e não gastam um centavo em roupas!"
Por isso, era importante uma aparada geral. Primeiro, Bono cortou o cabelo e o deixou preto. Adam e Edge também passaram por transformações.
O baixista deixou um visual mais moderno, Edge cortou bem curto e manteve um cavanhaque.
Larry valorizou mais o físico e também deixou seu corte mais atual. Além disso, as roupas antigas teriam que ir, literalmente, pro lixo.
Em uma entrevista à MTV em 1991, Bono confessa que havia se recordado da bronca de Sinatra e disse que queria ver alguém ridicularizar agora o U2 em termos visuais.
Mas era necessário, também se reinventar. Quando o responsável pelos vestuários, Fintan Fitzgerald, arranjou um óculos escuros em uma loja de segunda mão, Bono o adorou. Seria o famoso óculos de "mosca" que seria copiado zilhões de vezes. E Bono resolveu que seria sua cara, a partir de então. "Oscar Wilde dizia que se você quer saber a verdadeira face de uma pessoa, deve dar uma máscara a ele", explicou o cantor porque adotaria tal posição.
Mas isso não era tudo. Bono iria usar ternos de couro preto, como Jim Morrison, Iggy Pop e Elvis Presley haviam feito anteriormente. E havia a atitude: nada mais de bons moços, quase santos.
Bono começaria a ostentar ironia nas entrevistas, andando com garrafas de bebidas e charutos na boca, para tristeza do seu pai. "Parei de fumar há mais de 20 anos e nunca meus dois filhos fumaram. Vendo Paul - se recusa a chamá-lo pelo nome artístico - fazendo essas coisas fico triste porque é um péssimo hábito e os fãs irão imitá-lo".
E Bono dizia mais: "se nossos antigos fãs não aceitarem nossas mudanças é porque não evoluíram e o U2 não precisa deles mais. Os anos 80 morreram, estamos olhando pra frente". Bem arrogante, não?

agradecimento: www.beatrix.pro.br/mofo/
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