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terça-feira, 11 de maio de 2010

O líder do U2 em entrevista-zen para a Revista Trip # 59 - Arquivo '50 anos de Bono'

Dezembro de 1997, em entrevista que estampava as Páginas Negras da edição # 59 da Trip.
À época, os irlandeses preparavam-se para uma série de apresentações da PopMart Tour na capital paulista e no Rio de Janeiro. Na conversa, realizada em parceria com a revista inglesa Dazed & Confused, o vocalista Bono contou sobre a procura pela simplicidade, garantiu ser um cavalheiro e disse que nunca vendeu a alma para conquistar o sucesso. Ele e The Edge falam mais a seguir:

BONO
Você se acha uma pessoa natural, espontânea?

Com certeza. Vou dar um exemplo: quando a gente está tocando, às vezes eu realmente sinto que não quero estar no palco e é por isso que costumava acabar fora dele, na maior parte do tempo, em alguns shows. O pessoal reclamava, mas fazer o quê? Ultimamente, pelo menos, não há mais esse risco. É que eu tenho curtido nossos shows. Uma vez um diretor me disse que a coisa que marca alguns performers e atores é que você pode sentir que eles poderiam descer para fora da tela e estar no seu colo, na sua cara e no seu carro. Sinto que sou esse tipo de performer, sou como qualquer pessoa, poderia ser seu vizinho.

Você tem um número de personalidades diferentes ou é sempre o mesmo?

Eu sou muito consciente de que não tenho controle sobre como vou acordar, sobre quem serei naquele dia. Eu gostaria de ter esse controle, mas não tenho. Eu realmente pareço acordar com um estado de espírito diferente a cada dia.

Você vive um estilo de vida de fantasia a que muitas pessoas aspiram. Sobre quais ambições pessoais você ainda fantasia?

Simplicidade. Isso é o que eu tenho em mente no momento. Antigamente, eu costumava pensar que poderia fazer qualquer coisa, e eu queria fazer tudo: escrever um livro, fazer um filme, estar numa banda, ter uma família, escovar os dentes três vezes ao dia... Agora, eu não quero mais fazer um monte de coisas, tudo que eu na verdade quero fazer é um CD genial.

Você tem duas filhas e está casado há 14 anos. Como é que funciona estar no U2 e ter uma família?

Eu sou uma dessas pessoas que precisam de uma razão para voltar para casa. Eu tenho a família que sempre quis. Ela me dá liberdade de fazer todas as outras coisas que eu também sempre quis. Eu sempre tive um lado viajante, e eu acho, na verdade, que, se não tivesse encontrado a família que encontrei, eu seria muito mais egoísta. Eu simplesmente sou muito curioso sobre o que existe depois da próxima esquina, o que existe rua abaixo, o desejo de viajar existe em mim. Está em mim esse desejo, é curiosidade musical, é curiosidade intelectual, é flerte – é tudo.

Você flerta muito com as mulheres?

Acho que sou bastante respeitoso com as mulheres, sempre tive um grande respeito pelas mulheres. Nunca fui um cara desse tipo, de ficar flertando com tudo e com todas.

Quando foi a última vez que você se sentiu constrangido?

Eu vivo constrangido com meu jeito de tocar guitarra, eu realmente quero ser capaz de tocar guitarra melhor...

É preciso vender parte de sua alma para se ter tanto sucesso?

Eu posso responder isso sinceramente e dizer que não. Eu não duvido que algumas pessoas tenham que fazer isso, porque, se você não tem moral, de alguma maneira fácil você se torna mais poderoso. Por outro lado, para quem não quiser entrar nessa, fica mais difícil. O U2 nunca teve que se submeter a isso. Tivemos uma força de vontade enorme para que isso não acontecesse.

Você já passou por algum período usando muitas drogas?

Não é a minha. Eu realmente não estou nessa, mas eu sinto pelas pessoas que estão. Eu tentei trazer o tema a debate e falar sobre os fatos, mas fui distorcido. Fui parar nos tablóides, com o pessoal atribuindo a mim a seguinte frase: “Eu acho que as drogas são ótimas”. Foi uma distorção do que eu tinha dito, porque na verdade não acho as drogas ótimas. Eu acho que as drogas são preguiçosas, só que eu não as censuro. É isso. Minha relação com drogas não existe porque, como pessoa, o tipo de drogas de que eu preciso é uma para me botar para baixo e não para cima.

Quem é o mais irônico dos seus colegas de banda?

O The Edge.

O que você poderia revelar que só o Bono verdadeiro saberia?

Sobre o meu nariz, ninguém tem um nariz como o meu. Tenho certeza de que se alguém viesse e dissesse que era o verdadeiro Bono seria mais alto, mais esperto e muito mais cool.

THE EDGE
Como você vê o mortalmente sincero U2 dos anos 80, e o U2 de hoje em dia?

Eu não acho que mudamos tanto assim durante os anos. Os temas das músicas do novo disco são os mesmos. A diferença é que as letras já não são tão na cara, elas são um pouquinho mais sutis. Antes eu achava que as pessoas adoravam nossa música pela sua crueza, sua sinceridade, sua ingenuidade, mas mais recentemente eu acho que elas gostam do U2 porque nós estamos ficando melhores em disfarçar. Mesmo assim, algumas vezes eu penso, “foda-se, vamos dizer isto como realmente é”. Mas o resultado de Pop [disco lançado em 1997] é bem interessante.

Como é a vida de celebridade?

Você adota uma personalidade diferente quando está em turnê? Não, eu tento desesperadamente sempre evitar isso. E é difícil, principalmente quando você tem 600 fãs do lado de fora do hotel, aí você não consegue falar com as pessoas adequadamente. Mas eu odiaria ser visto como alguém esnobe, estando em algum tipo de pedestal.
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