Berlim, Outono de 1990, o início do inverno de descontentamento do U2. Foi na sequência do anúncio de Bono em Dublin, no Point Depot em 31 de dezembro de 1989, quando a banda, machucada pelo surra levada pela crítica devido ao disco de 1988, 'Rattle And Hum', onde ele declarou: "Temos que ir e sonhar tudo isso novamente". Estava claro que o U2 enfrentava dificuldades.
Eles se refugiaram no Hansa Studios na antiga Berlim Ocidental na esperança de que os álbuns de Bowie e Iggy Pop feitos lá nos anos 70, proporcionassem inspiração para o que se tornaria 'Achtung Baby'.
Uma noite, seu cúmplice de estúdio, o produtor Daniel Lanois, saiu para fazer gravações de campo de trens (para usar talvez em "Zoo Station") e foi seguido por um carro de skinheads bêbados. Por toda a cidade, os bares do hotel estavam cheios com o que o ex empresário Paul McGuinness descreve como "prostitutas de todo tipo que vende material para o leste. Sistemas de transporte, pontes, o que for".
"Parecia haver uma nuvem negra pairando sobre toda a sessão de gravação", se recorda o co-produtor Flood. "Às vezes o clima esquentava da maneira mais incomum. Não com brigas, mas com discordâncias. Foi muito tenso."
As divisões dentro do U2 eram claras. De um lado, havia Bono e The Edge, com a intenção de modernizar a banda por meio de batidas contemporâneas, ouvindo música nova (a lista de reprodução do estúdio na época incluia My Bloody Valentine, Butthole Surfers, até mesmo Ozric Tentacles). Do outro lado, havia Larry Mullen (que passou seu tempo de inatividade revisitando Cream e Hendrix) e Adam Clayton (preocupado que a banda estava procurando batidas dance puramente para efeito), ambos provando estarem resistentes à mudanças.
Durante uma jam com nervos a flor da pele, Adam Clayton tirou o baixo e com raiva entregou nas mãos de Bono, esbravejando: "Então quero ver você tocar esta porra, toma!"
"Não foi a primeira vez ou a última vez que aconteceu", diz Edge. "Na verdade o clima esquenta muitas vezes. Ninguém ia desistir sem uma grande luta. Há quatro filhos da puta maus no U2. Acho que teríamos nos separado há anos se tivessem quatro maricas na banda."
"Nós estávamos fora de sincronia, não há dúvida sobre isso", acrescenta Larry Mullen. "Houve tensões porque não estava funcionando. O ambiente da Hansa não era algo criativo. Mas eu acho que eu aceitaria 100% que eu estava fora de sincronia".
Enquanto o foco ao processo foi trazido pela chegada do produtor Brian Eno, que Flood chama de seu "carregador sônico", o progresso ainda era lento. Então, um incidente iria mexer ainda mais com a confiança da banda, quando gravações demos do trabalho até aquela data foram roubados (culpado desconhecido) e rapidamente prensadas em dois álbuns duplos bootlegs, em vinil.
"Foi muito perturbador", recorda Daniel Lanois, "porque ninguém sabia como aconteceu. Eles poderiam estar andando por nós no estúdio ou pode ter sido no hotel. Mas criou uma cena ruim por algumas semanas."
"Até onde sabemos, tinha sido feito em uma fábrica de impressão quase extinta na Alemanha Oriental", diz Paul McGuinness. "Foi uma loucura, a ideia de pessoas rondando nos nevoeiros de Berlim, com fitas contrabandeadas."
"Na verdade, eu também tinha uma cópia destes bootlegs", sorri The Edge. "Há provavelmente algumas músicas que nós poderíamos rever no futuro."
As sessões realmente avançaram quando a banda conseguiu gravar em um take apenas, "One". Flood conta: "eles estavam tocando seguidamente e repetidamente, então de repente os acordes vieram juntos e eles deram sequência a melodia".
Após três meses de trabalho contínuo, o U2 voltou para casa com um pouco mais do que linhas de baixo (para "Mysterious Ways") e noções vagas de "The Fly" e "Who's Gonna Ride Your Wild Horses".
De modo bizarro, a banda gravou no quarto da piscina de uma casa de aluguel na periferia de Dublin, na proximidade de um canteiro de obras, onde uma frota de escavadoras JCBs estavam em funcionamento durante a maior parte do dia. Apesar disso, em poucas semanas, o álbum começou a tomar forma.