
Paul era um homem inquieto. Aos 27 anos, já tinha uma vida movimentada e atualmente trabalhava na produção de filmes com locações na Irlanda. Ele já tinha empresariado um grupo chamado Spud, que havia feito um relativo sucesso fora da Irlanda, mas que se separou justamente pelas razões que McGuinness comentara com Bill. Paul queria entrar no mercado da música. Dono de um grande senso de ordem, responsabilidade e muita determinação, havia conseguido para o Spud um contrato com uma gravadora da Suécia, a Sonet Records. O grupo até que se saiu bem e McGuinness pegou o lucro e resolveu investir na infra-estrutura da banda, comprando um novo caminhão e equipamentos. Mas a banda estava infeliz, com dívidas e precisavam de dinheiro urgente para sanar os compromissos assumidos. Paul argumentou, desesperado, que era necessário investirem o dinheiro durante alguns meses e fazerem mais shows para que realmente pudessem lucrar. A banda argumentava que não poderia esperar tanto. Paul entendeu e deixou-os, triste.
Por isso, quando seu velho amigo Brian falou sobre um novo grupo de meninos que eram promissores, Paul não se animou muito. Em sua cabeça seria apenas mais uma banda punk e Paul odiava a estética e o som que os punks faziam, excessivamente alto e berrado. Chegou até a perguntar para Bill como ele havia entrado nessa onda, com essa nova revista. "Você precisa ouvi-los, Paul. São muito crus ainda, mas promissores”.Paul não estava tão certo assim.
Dias depois, Adam Clayton ligou para Paul McGuinness. Ele o convidou para uma conversa informal. Paul disse que poderia, mas em outra oportunidade, pois estava muito ocupado em uma filmagem e preferia que Clayton voltasse a telefonar dentro de uma ou duas semanas.

Enquanto isso, The Edge, Bono e Larry estavam em apuros. The Edge iria ingressar na Kevin Street Technical College, para se tornar engenheiro como seu pai. Mas The Edge não queria isso, queria seguir carreira como guitarrista. Só que para convencer seus pais era necessário que houvesse algo concreto. Por enquanto, Garvin e Gwenda consideravam que o U2 era apenas um passatempo para seu filho, nada mais. Mas The Edge sabia que isso não era verdade.
Bono também estava bem arranjado. Bobby não suportava ver mais seu filho ficar fora de casa até de madrugada andando com aqueles moleques estranhos e que agora o chamavam de Bono. O filho havia desistido de estudar na universidade e cismou em ser músico profissional. Bobby disse que não aceitava essa decisão e que se o filho persistisse nessa idéia estaria por sua conta e risco, pois não iria mais lhe dar dinheiro.


A primeira banda a subir foi o Virgin Prunes e logo Paul torceu o nariz. O grupo tocava tendo Larry, The Edge e Adam como músicos de apoio. McGuinness abriu um jornal e começou a ler, rezando para que logo pudesse estar em casa. E então aconteceu: o U2 subiu ao palco. Paul fechou o jornal e começou a reparar nos quatro garotos: o baterista era bonito e sabia tocar. O guitarrista tinha um bom estilo e jeito para o instrumento. Mas o que mais chamou sua atenção foi Bono. Ele o considerou extraordinário, mas não como vocalista, pois Bono não sabia cantar, mas por sua performance teatral, sem querer parecer "cool". Paul adorou o que viu, pois eram jovens, talentosos e diferentes.

"Então temos um empresário?", perguntou Adam, o porta-voz da banda. "Sim", respondeu Paul. A banda ficou eufórica, e ao contar a notícia para Guggi e Gavin, ouviram uma sonora risada. "Esse panaca é o empresário de vocês? Meu Deus!", zombou Gavin.
A primeira missão de McGuinness era marcar a sessão para a gravação da demo. O problema era que o U2 não tinha nenhuma canção escrita. E o problema caiu no colo de Bono. Após uma reunião interna, ficou acertado que Bono escreveria as letras, já que as cantaria, enquanto os demais cuidariam do arranjos das mesmas. Bono que fosse para casa então e começasse a rabiscar umas palavras. E Bono tremeu: afinal sobre o que ele cantaria? Ele não sabia como descrever as imagens que rondavam sua mente. Ele tinha imaginado uma canção que falava sobre a morte de sua mãe, mas que não sabia como traduzi-la. A única frase que vinha era "out of control", e um riff que tentava capturar em sua guitarra. Era uma idéia, mas ainda muito crua. O mesmo acontece com "Street Mission", a primeira canção que ele escreveu, de fato. Animado, tentou mostrar suas idéias para os demais. "Tente tocá-las, mostre-nos algum acorde", pediu The Edge. Bono tentava mostrar o riff e casar com palavras. As palavras podem vir depois foi o que concluíram. E com essa idéia partiram para gravar a prometida demo na CBS.
A experiência virou um pesadelo para os garotos. Jackie Hayden, o responsável pela sessão, argumentou que eles deveriam ter vindo com oito canções devidamente ensaiadas e colocadas num formato de aproximadamente três minutos. A banda perguntou, ingenuamente, se não poderiam arrumá-las no estúdio: Irritado, Hayden explicou que as horas dos estúdios custavam muito caro e que aquelas três canções que haviam gravado ("Shadows and Tall Trees", "The Fool" e "Cartoon World") eram insuficientes. Para piorar, o pai de Larry o esperava, furioso, na porta do estúdio para voltarem para casa. Seu filho estava se preparando para as provas na escola e não poderia perder tempo com essas coisas. Para ele, nada era mais importante do que os estudos.