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terça-feira, 15 de novembro de 2016
Uma conversa sobre os ataques em Paris, com o produtor Jim Parsons de 'U2 iNNOCENCE + eXPERIENCE Live in Paris'
Há um ano atrás, no dia 13 de novembro de 2015, os terroristas abriram fogo no local de música em Paris, Le Bataclan, e tiraram muitas vidas em um ataque chocante sem precedentes. Um mês depois, o U2, que iria se apresentar na cidade na noite seguinte, voltou para a cidade das luzes e entregou um show deslumbrante, que incluiu membros do Eagles Of Death Metal, tocando a canção de Patti Smith, "People Have The Power".
Esse concerto foi filmado ao vivo para a HBO, como 'U2 iNNOCENCE + eXPERIENCE Live in Paris', com a maioria da equipe de produção retornando a Paris para terminarem o que começaram.
Além de uma conversa com o diretor de filmes-concertos Hamish Hamilton, a Billboard também conversou com o produtor Jim Parsons de 'U2 iNNOCENCE + eXPERIENCE Live in Paris'. O veterano produtor inglês, que produziu filmes-concertos ao vivo de diversos artistas, reflete sobre o retorno a Paris após os ataques terroristas e como o que aconteceu no Le Bataclan mudou para sempre o reino da música ao vivo.
Como você se envolveu como produtor do projeto do U2?
Eu sou um produtor independente então fui chamado pela Done + Dusted. Já trabalhei com Hamish em projetos várias vezes ao longo dos anos. Eu trabalho quase exclusivamente em música ao vivo. Eles perguntaram: "Quer fazer U2?" e foi como: "Obviamente, a resposta é sim!".
Eles são famosos por shows com palcos inovadores. Qual foi a dificuldade neste concerto?
Foi emocionante. As filmagens de concertos é o que eu faço, mas quando você está ao vivo para ir o ar, com algo grandioso como é o U2, é muito mais excitante. Não há muitas bandas que estão em seu nível, o sucesso e a influência que eles têm, o período de tempo que eles têm. Quando eu os assisti em Londres, foi o primeiro show que eu tinha visto em muito tempo que me deixou nocauteado pela concepção e como funcionava. Hamish e eu passamos muito tempo discutindo [como filmá-lo]. Porque o show foi focado no físico e ao redor, e também no centro. Há um termo de TV, 'cruzar a linha', que significa que quando você faz entrevistas você tem ambas as câmeras no mesmo lado da entrevista, caso contrário, quando você corta de uma para o outra, parece que não estão olhando um para o outro. É só quando você começa errado, que você nota. Normalmente em shows você não tem essa preocupação de passar dos limites, mas com o telão abaixado no meio [do show do U2] e Bono estando na tela, você tem que se preocupar com a linha. Seria estranho se ele estivesse andando da esquerda para a direita e de repente ele estivesse caminhando da direita para a esquerda. E foi um verdadeiro desafio para capturá-lo, porque é uma jornada de narrativa. Começa com Bono, indo para os ensaios e, em seguida, há a seção punk, então a Inocência quando eles estão na seção intermediária dentro da tela, em seguida, a parte de Experiência onde tocam os grandes sucessos, e em seguida, ele vai voltar para o início. Acho que conseguimos capturá-lo, mas teve muito planejamento.
A Billboad recentemente entrevistou o baterista Julian Dorio, quem estava tocando com o Eagles of Death Metal durante o ataque. Ele disse que sentar na bateria do U2 foi a primeira vez que ele tinha retornado para o instrumento após o ataque. Havia alguma preocupação com esta tragédia, de que os sobreviventes poderiam ter alguma dificuldade no show?
Eu acho que sim, todo mundo estava um pouco preocupado. Não falei muito com a banda antes da performance. Eu sei que eles tinham muito o que conversar com Bono e Edge. É difícil de imaginar. Estávamos em Paris na noite das atrocidades terroristas, mas fomos completamente retirados de onde estávamos, de uma forma estranha. Estávamos a duas milhas de distância, que não é longe, mas fomos levados embora do local, levados para o hotel, e não vimos ou ouvimos nada além de sirenes a noite toda. O que vimos na TV e a Internet era o mesmo que todos os outros. Voltamos para o hotel à noite, no dia seguinte fomos ao local e desmontamos tudo, colocamos as câmeras nas maletas e fomos para casa. Você não pode imaginar como foi para os artistas. Bono foi pontual quando disse lindamente: "Este é o primeiro impacto direto na música." Foi a primeira vez que tínhamos sido atacados nesse ambiente. Então eu acho que qualquer coisa que o Eagles of Death Metal fizesse, seria um momento catártico para eles. Mesmo se eles não tocassem, não importava. Só de tê-los no palco e aquela onda do público, teria sido uma declaração e um triunfo para eles próprios. E tenho certeza que se você pedisse a eles, eles diriam que tinham que fazer isso. Perguntamos para a nossa equipe de filmagem: "vocês estão pronto para fazerem isso e voltarem para Paris?" com a base que se eles não quisessem, tudo bem. Acho que houve um casal que não podia porque tinham outros empregos, mas o restante foi como: "você tem que terminar o que começou." Se Jesse e a banda e Bono e Edge estavam preparados para continuar e fazer isso, como um membro da equipe, parecia que não havia nada que impedisse. Não estou no palco na frente das pessoas, eu estou apenas em segundo plano.
Imagino que ainda assim era uma pequena catarse para você.
Foi estranho voltar e estar lá. Terminar o show foi algo que todo mundo sentiu que precisava ser feito. Como Bono disse, não poderíamos deixar o ódio vencer. Você tem que continuar com a vida. Parece banal, mas é verdade. Para mim era mais a proximidade a isto e as conexões com as pessoas no show do U2. Se nós tivéssemos terminado aquele ensaio cedo, nós poderíamos ter ido para o Bataclan. Alguns dos caras em turnê são todos amigos.
Se tivesse acontecido duas, três coisas diferentes, alguns de nós poderiam ter estado no local. Elaine, que fez um trabalho para nós, estava lá, e ela estava com o Nick [Alexander], o cara do merchandising que foi morto. Mesmo que você não tenha uma ligação direta, há algo que nos mantém conectados. Todo mundo tinha uma conexão com as pessoas lá.
É estranho pensar e é difícil de acreditar que há pessoas que não voltaram para casa naquela noite. Eu realmente não consigo colocar em palavras... Ainda bem que conseguimos, ainda bem que o Eagles of Death Metal voltaram para o palco em Paris e, assim, exorcizaram os demônios. Não consigo imaginar o quanto terrível deve ter sido naquele local. A única coisa que consigo pensar na minha carreira é quando Darrell, do Pantera e Damageplan, foi baleado no palco. Isso foi um grande ponto de virada, que não deveria acontecer. Você vai aos shows para se divertir. Já fui a shows depois com meus filhos e você meio que entra e olha ao redor do local, e pensa: "se acontecer alguma coisa, o que eu vou fazer?" O que é uma situação muito triste, mas é que vem daquele dia trágico. As coisas nunca mais serão as mesmas novamente.
Quando eu era jovem, shows foram a minha igreja, onde fui conseguir o que queria e que o resto do mundo não podia me oferecer, como um adolescente. É por isso que faço o que faço. Ter qualquer negatividade em torno isso muda as coisas. É por isso que o show tinha que continuar. Como Bono disse, não se pode deixar que o ódio vença.
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