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domingo, 10 de abril de 2011

U2 emociona 90 mil pessoas com primeira noite eletrizante em São Paulo, pela turnê 360º

Poucos minutos antes da abertura dos portões, tudo seguia como esperado ao redor do estádio do Morumbi. Jovens em vigília há dias se punham de pé e em fila na esperança de conseguir o melhor lugar possível na plateia, camelôs agitavam e vendiam souvenirs e ambulantes hidratavam gargantas sedentas para botar de vez suas vozes para fora. Do lado de dentro, no entanto, uma grande diferença se impunha: uma monumental estrutura de palco fincando suas quatro enormes garras no gramado.
A banda britânica Muse, que abre os shows da 360º Tour desde o Chile, quando teve início a turnê latino-americana no dia 25 de março, fez show de aproximadamente 45 minutos - com início pontual às 20h, e mandou hits como Supermassive Black Hole, United States of Eurasia, Time Is Running Out e Plug in Baby. O telão circular foi o primeiro item da superestrutura do U2 a entrar em ação. E a chuva caia.
Eram 21h30m quando os ponteiros de um relógio estampado num telão foram para os ares, indicando o que todos aguardavam desde a última apresentação da banda no país, em 2006. A chuva à essa altura já tinha dado uma trégua.
Pouco antes de o grupo entrar caminhando pela estrutura que é parte forma de aranha, parte nave espacial, parte uma gigantesca catedral, os equipamentos de som tocaram 'Trem das Onze', de Adoniran Barbosa e seu grupo 'Demônios Da Faroa'. O coro uníssono de quase 90 mil pessoas com os versos de uma das canções símbolos de São Paulo era a resposta correta: todos pareciam se sentir em casa no Morumbi.
Depois, veio a senha para o início do show: a execução mecânica de Space Oddity, de David Bowie, um chamado para a pequena odisseia espacial do U2. O telão mostrava a banda caminhando em direção aos instrumentos e o público delirava.

O show começou com "Even Better Than The Real Thing", música do álbum "Achtung Baby" que a banda resgatou durante as apresentações em Buenos Aires. Um presente para os fãs mais fervorosos. "I Will Follow", do album de estreia "Boy", veio em seguida, lembrando que o U2 sempre soou grandioso e destinado a ser uma das maiores bandas de todos os tempos.

"Get On Your Boots" e "Magnificent", do último álbum, "No Line On The Horizon", não fizeram feio frente os grandes clássicos da banda.

Daí para frente teve de tudo que um show do U2 oferece como arte e entretenimento, lição de vida e de business: Bono se debatendo no ar, cantando no chão, se pendurando num cabo de aço, chamando uma menina da plateia e pedindo que ela lesse um trecho de "Carinhoso", de Pixinguinha, assim como suas corridas olímpicas pela pista circular que envolve o palco.

Um dos segredos da magnitude e longevidade do U2 é sua capacidade de passear por diversos estilos. "Mysterious Ways", também remanescente de "Achtung Baby", provou que um estádio de futebol pode, muito bem, se transformar em uma pista de dança, graças ao riff simples da guitarra de The Edge e ao baixo circular e envolvente de Adam Clayton. "Elevation" surge, então, como uma locomotiva sonora, lembrando que a banda também sabe fazer rock básico - mesma sensação que "Vertigo" traria um pouco depois. Bono, destilando todo seu carisma, anuncia a próxima música como "A balada".
Performático, Bono tem longas conversas com o público. Disse que aquela era a grande "balada" (usando exatamente esta palavra) do sábado à noite e que, depois, como todo paulistano faria, seria o momento de pedir uma pizza. Fatiando a banda nessa clássica receita italiana, Bono se autoproclamou uma pepperoni. Disse que Adam Clayton era mais exótico e, por isso, seria uma "pizza de banana". Falou que o guitarrista The Edge era o cara que pedia as coisas mais "obscuras" do menu e, por isso, seria uma pizza de Jaca ou, quem sabe, minhoca. E Larry Mullen Jr., é a pizza sem queijo, sem tomate e sem molho. Ele é somente a "pizza bonitinha" da banda.
Segue-se "I Still Haven't Found What I'm Looking For", dedicada a Julian Lennon, que, segundo o vocalista, assistia ao show e ganhou um "Parabéns a Você" devido a seu aniversário no dia anterior.
E aí Bono fica sozinho no palco com The Edge, e interpreta uma versão acústica de "Stuck In a Moment You Can't Get Out Of" e toda a grandiosidade do espetáculo é vista por outra perspectiva. É óbvio que o palco em forma de garra impressiona logo ao se colocar os pés no estádio, a parafernália visual chama a atenção, mas despida de efeitos a canção realça o que, no final, realmente importa: o U2 é uma das poucas bandas capazes de compor melodias sentimentais que soem ao mesmo tempo universais e únicas. É como se Bono, ao cantar a letra em homenagem ao ex-vocalista do INXS Michael Hutchence, falasse também sobre cada um dos quase 90 mil presentes. Lembra da "intimidade em larga escala"?
No meio do show, quando cantam 'In a Little While', a banda chama novamente atenção para o mundo além de nossa atmosfera e exibe em seu telão a imagem de um astronauta que enviou uma mensagem pro quarteto diretamente lá de longe.
Em comparação com sua última turnê, que passou pelo Brasil em 2006, o messianismo demagógico de Bono ficou bem reduzido nesta 360º Tour. Se antes havia a declaração dos direitos humanos sendo transmitida no telão, agora o foco parece ser mais a música. Mesmo a emocionante "Miss Sarajevo" passa incólume pelo discurso pacifista do cantor, que só vai aparecer no final da primeira parte do show, após o hino de protesto "Sunday Bloody Sunday".
A banda chegou a ensair a canção 'Zooropa' na passagem de som, mas ela não foi tocada no show. Continuou sendo utilizada a introdução mesclada de Fez, com fragmentos de Zooropa, antes da canção 'City Of Blinding Lights'.
Bono celebra a libertação, em novembro do ano passado, da líder de Burma Aung San Suu Kyi, presa em domicílio por 21 anos por fazer oposição ao governo do país asiático. "Walk On", composta para San Suu Kyi, surge com a passarela ao redor do palco sendo tomada por baldes luminosos com uma vela desenhada por fora e o símbolo da Anistia Internacional, como que num momento de oração e celebração.
O líder africano Desmond Tutu aparece em um discurso no telão antecedendo o bis, que chega com "One", trazendo belos vídeos da banda no ano de 1990 em Berlin.
Já no bis, após "One", Bono aproveitou a guitarra em punho para puxar o refrão de "Help", dos Beatles, e então a banda iniciou "Where The Streets Have No Name", trazendo então toda genialidade de The Edge, capaz de preencher um estádio com poucas notas e efeitos grandiosos, e também mostrando imagens da banda no telão lá no ano de 1987.
Uma animação com extraterrestres dá sinais que a "nave U2" vai levantar vôo. E eles aparecem para uma versão pesada de 'Hold Me Thrill Me Kiss Me Kill Me', que teve um som orquestrado de fundo ouvido nitidamente no potente sistema de som da banda, e também teve Bono brincando com seu microfone preso à um cabo de aço e sua jaqueta de led's.
Ainda há tempo para "With Or Without You" antes de Bono lamentar a tragédia ocorrida na Escola Municipal Tasso da Silveira, no Rio, na quinta-feira, 7, e dedicar a derradeira "Moment Of Surrender" a todos as 12 crianças mortas, que tiveram seus nomes mostrados no telão.
Falou bem da presidente Dilma Rousseff, disse que o País passou por importantes mudanças nos últimos anos e, finalmente, lembrou que este é "um momento difícil" pro Brasil.
O vocalista pediu então que todos acendessem seus celulares ou usassem seus isqueiros para iluminar a noite, deixando na retina uma das mais bonitas imagens que um show pode proporcionar. Irretocável.

Poucos minutos depois do encerramento do show e enquanto o sistema de som ainda tocava a canção 'Rocket Man', de Elton John; com as luzes apagadas e imagens no telão dos astronautas na estação espacial, a chuva resolveu lavar de vez a alma das 90 mil pessoas presentes.
Não é à toa que o U2 conquistou o posto de maior banda de rock do mundo. Com 33 anos de estrada, os irlandeses pavimentaram uma história íntegra e ousada, sem se deixar seduzir pelas fórmulas do sucesso fácil, se reinventando a cada disco e propondo desafios sonoros aos fãs. Chegaram ao ponto do mega estrelato, do espetáculo de massa, mas sem deixar que a megalomania visual ofusque a mensagem sonora. É tudo planejado para que cada fã se sinta parte especial do todo. A banda se apresenta ainda duas vezes em São Paulo, neste domingo, 10, e na quarta, 13. Faça o possível e o impossível para não perder.

1.Even Better Than The Real Thing
2.I Will Follow
3.Get On Your Boots
4.Magnificent
5.Mysterious Ways
6.Elevation
7.Until The End Of The World
8.I Still Haven't Found What I'm Looking For
9.Happy Birthday (Julian Lennon)
10.Stuck In A Moment
11.Carinhoso/Beautiful Day
12.In A Little While
13.Miss Sarajevo
14.City Of Blinding Lights
15.Vertigo
16.Crazy Tonight
17.Sunday Bloody Sunday
18.Scarlet
19.Walk On

Encore(s):

20.One
21.Help / Where The Streets Have No Name
22.Hold Me, Thrill Me, Kiss Me, Kill Me
23.With Or Without You
24.Moment of Surrender

Resenha pessoal e de diversos sites
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