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quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O show do U2 no Harp Lager Contest - Limerick, Irlanda, em 1978

Quando a banda antes conhecida como Feedback e The Hype ganhou o festival Harp Lager Talent Contest com o novo nome U2, receberam um prêmio que incluiu uma oportunidade para a audição na CBS Records. Esta é uma das primeiras aparições da banda com o nome U2 (ou "U2 Malahide" como chegaram à ser anunciados).
Além das canções 'Street Mission' e 'Life On Distant Planet', o U2 apresentou uma terceira composição original, do início da banda e que permanece desconhecida até hoje por não existir um áudio desta apresentação. A música se chama 'The TV Song', nome assim dado porque a banda sentiu que lembravam o som da banda Television.


Setlist:

1.Street Mission
2.Life On A Distant Planet
 

3.The TV Song

Do livro U2 BY U2: 

Larry: Da primeira vez que nosso nome apareceu no jornal, nos chamaram de “U2 Malahide”. O que eles queriam dizer era ‘U2 de Malahide’, que, como é obvio, também não estava certo. Adam: O momento exato em que nos tornamos U2 foi numa mostra de talento em Limerick, patrocinada pela Harp Lager, no dia de Saint Patrick, em Março de 1978. O prémio era 500 libras (cerca de 635 euros) e um contrato discográfico. Tínhamo-nos inscrito como The Hype e ocorreu-nos que, se ganhássemos, esse seria o nome pelo qual passaríamos a ser conhecidos. Por isso, tivemos de mudar de nome antes do concurso. 

Bono: Os Hype deram um espetáculo à meia-noite no Project Arts Centre.
Um espetáculo sério, numa verdadeira sala de espetáculos de Dublin! Depois da atuação fomos celebrar. Acho que não houve muito descanso nessa noite. No dia seguinte, tínhamos de acordar cedo para apanhar o trem para Limerick. Alguns integrantes dos Village foram conosco. Foi uma animação ir no trem com os nossos colegas para ir atuar num lugar onde havia pessoas ligadas ao mundo da música. Era Rock ‘n’ roll! 

Larry: Eu e o meu velho chegamos à Connolly Station vinte para as duas e reparamos que o único trem que ia para Limerick saía às 14h da Houston Station. Lembro-me de ele ter começado a resmungar: “Você é um grande idiota!” enquanto íamos correndo ao longo da linha de regresso ao carro. Por pouco não apanhávamos o trem. 

Adam: Foi uma festa e tanto! Estavam lá o Gavin, o Guggi, o Strongman e o Pod. E a Maeve O’Regan.

Larry: Nunca tinha ficado num hotel. Acho que partilhei o quarto com o Pod e o Strongman. O Bono dividiu o quarto com a Maeve O’Regan. Achei aquilo uma loucura. Ele estava dividindo o quarto com uma garota. Sentia-me completamente intrigado com aquilo, pois sabia que os meus pais não iriam aprovar. 

Bono: Sempre tive amigas que não eram minhas namoradas. No topo da lista estava a Maeve. Éramos verdadeiras almas gêmeas. Falávamos da vida e de poesia, de sexo e de fé, de amor e de medo, e “de todas as coisas que nos mantêm na misteriosa distância entre um homem e uma mulher”. Lembro-me que queria mesmo falar com ela. Acho que tinha alguma coisa planejada. Mas éramos amigos e, por isso, não iria acontecer nada entre nós. Mas, ela foi dar um passeio com o Adam e não voltou para conversar comigo sobre poesia, política ou outra coisa qualquer. Fiquei magoado e compreendi o poder do Afro, mesmo que fosse um Afro invertido. Isto porque o Adam tinha um cabelo que deixaria o Michael Jackson orgulhoso. Além disso, sabia acender cigarros e bater levemente o cigarro para fora do maço. Naquela altura, o mais provável era eu pegar fogo em mim mesmo. Eu devia parecer uma pessoa muito segura de si mesma. E o tinha sido, quando era mais novo, mas a autoconfiança não resiste a tudo. Nada de bom surgiu depois disso. Acho que a arte é uma tentativa de a pessoa se identificar. Se temos a certeza de qual é o nosso lugar no mundo, não existe qualquer razão para tentá-lo descobrir. Eu já fui uma pessoa muito segura de mim mesmo, mas, depois, a minha mãe morreu e a minha segurança se foi. Quando tinha 17 anos, recuperei alguma confiança, porque descobri o que queria fazer na vida. Até sou capaz de ter atingido um certo nível irritante novamente. Mas não muito. Porque agora já sabemos o tamanho da queda e essa idéia nunca desaparece. Mas eu ainda andava tentando resolver esse problema. De qualquer forma, em palco demonstrava grande segurança. Alguma vez viram uma pessoa desastrada e sem graça que consegue nadar maravilhosamente? Normalmente, não passa de uma pessoa desajeitada que esbarra contra as mesas e cadeiras e tropeça em sacos, mas quanto entra na água tudo se transforma. Comigo acontece o mesmo. Porque estou fazendo aquilo que gosto. É uma sensação fantástica. A música me deu muita confiança.  
Adam: O concurso era uma sala com um palco enorme, um sistema de som e luzes e todos aqueles músicos das showbands fazendo o que eles sabem fazer, todos à espera de conseguir um contrato discográfico, alguns tipos mais novos e mais punks, e nós. 

Larry: As apresentações iam começar cedo, às seis da tarde. O lugar estava lotado. Assistimos à apresentação das outras bandas e nos sentíamos pouco confiantes. 

Edge: Não fazia idéia do que é que eles esperavam daquele espetáculo. Achei que ia ser um concurso terrível de amadores e que o vencedor ia ser um grupo que conseguia cantar ‘Auld Lang Syne’ e beber um copo de água ao mesmo tempo. Mas, quando chegamos lá, encontramos o Jackie Hayden, juiz da CBS Ireland, que era um tipo todo modernaço, e, por isso, achamos que as coisas podiam correr melhor do que pensávamos. Entretanto, vimos algumas atuações antes da nossa e achamos que eram todos músicos muito bons. Muitos deles estavam tocando versões de outros grupos, mas outros apresentaram originais. Achei que as músicas não eram grande coisa, mas eles sabiam tocar e cantar afinados. Estava um tanto nervoso e achei que íamos nos estrepar na primeira dificuldade. 

Bono: Havia bandas que sabiam acompanhar o ritmo, eram afinadas e pareciam muito seguras, tudo o que nós não conseguíamos ser nem fazer. Mas algumas bandas têm tudo mesmo “aquilo”. Nós só tínhamos “aquilo”. Edge: Acho que tocamos três músicas nossas. Não demoramos mais de três minutos, eram coisas simples. 

Larry: Tocamos ‘Street Mission’ e mais umas músicas. Adam: Acho que tocamos ‘Life On A Distant Planet’ e uma coisa chamada ‘The TV Song’. Chamava-se assim porque tinha um som parecido com o da banda television. Era melódica, a meio-tempo e o principal atrativo era o fato de sabermos tocá-la até o fim. 

Edge: Lembro-me apenas de termos arrasado. Às vezes, sente-se que a sala vibra. Me fez lembrar o primeiro concerto que demos no ginásio da Mount Temple e eu conseguia ver no rosto das pessoas que tínhamos estabelecido uma ligação. Me fez sentir muito bem, mas ainda não fazíamos idéia de que iríamos ganhar. 

Larry: Todos os que estavam conosco em Limerick acharam que nos tínhamos saído muito bem. Não tivemos grande reação por parte do público, mas fomos a única banda com um repertório só de originais. Depois da atuação, nos sentamos junto do público. Subiram ao palco mais alguns grupos e depois houve uma pausa enquanto era feita a votação. Não me lembro de qual era o processo de votação, acho que não era nada de muito complicado, mas eu estava tão entusiasmado que nem sequer pensava nisso. Os East Coast Angels ficaram em terceiro lugar. A Maeve O’Regan virou-se para mim e disse que íamos ficar em segundo ou primeiro lugar. E eu disse-lhe que ela não tinha entendido o sistema de votação. Entretanto, um grupo popular só de garotas ficou em segundo. Eu já estava convencido de que tínhamos perdido. E a Maeve disse: “Vocês ganharam!” E tinha razão. Nem conseguíamos acreditar. Quinhentas libras e a oportunidade de gravar um single. Melhor do que isto era impossível. 

Adam: Foi uma das raras ocasiões em que o meu pai esteve presente. Ele tinha parado em Shannon e foi assistir ao espetáculo. Não queríamos acreditar que tínhamos vencido. Eu achava que as nossas probabilidades eram as mesmas de quem joga na loteria, ou isso. Mas foi estrondoso termos realmente ganho. Lembro-me de ter agarrado na cadeira que estava à minha frente e de tê-la espatifado no chão. Mesmo em cima do pé do meu pai. E ele nem percebeu porque, pois não sabia que tínhamos mesmo vencido. 

Edge: O pessoal ficou doido. O Pod saltou bem alto e aterrou em cima de mim. Quase me partia a perna com a excitação. Devido à forma como o concurso estava organizado, o mais provável era que nem sequer tivéssemos sido colocados, por isso, saltamos das garras da derrota e da ignomínia para a vitória. Mal podíamos acreditar. Fiquei em estado de choque. Não tínhamos idade para nos divertirmos noite fora, mas acho que ninguém dormiu naquela noite. O Adam, sendo o mais velho e aquele que se comunicava melhor com os adultos, foi receber o cheque. O pai do Adam estava perto dele e ficou com o dinheiro por uma questão de segurança. E foi assim. Foi uma grande afirmação termos vencido aquele concurso, embora eu não soubesse até que ponto haviamos sido bons, nem como tinha sido a competição. Mas, naquela fase, foi muito importante vencer para levantar a moral e para que todos acreditassem no nosso projeto. 

Larry: Houve uma espécie de desfile na manhã seguinte e nós ficamos assistindo da varanda do hotel. Íamos ter de ficar o dia todo em Limerick por causa dos horários dos trens. Ainda éramos muito novos para nos servirem bebidas nos bares, por isso, passamos a tarde inteira na feira popular local. Não imaginamos até que ponto o fato de termos vencido em Limerick iria mudar as nossas vidas.  

Adam: De certa forma, essa vitória lançou-nos num novo curso. Foi tudo muito amador, mas para nós era muito real e, quando nos apercebemos, o contrato discográfico não era bem um contrato discográfico. Não havia nada que favorecesse o artista. Mas já estávamos um passo à frente.
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