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segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Capítulo 25 - Cresce a fama, a popularidade, os problemas, as críticas

O grupo embarcaria para os Estados Unidos e iniciaria uma monstruosa excursão, mas antes disso, não se furtaram em participar de uma homenagem a um grande grupo da Irlanda. No dia 16 de março, em um programa televisivo chamado The Late Late Show, a banda Dubliners era homenageada por completarem 25 anos de carreira. O grupo participou da festa cantando “Springhill Mining Disaster”, de Peggy Seeger, música que contém uma história comovente. A canção relembra os sobreviventes de um acidente em uma mina de carvão que havia ocorrido em Springhill, na Nova Escócia, no Canadá. Após ficarem soterrados e sem poderem sair, os mineiros começaram a cantar, enquanto esperavam ajuda. Ao final da apresentação, o U2 se juntou aos próprios Dubliners e aos Pogues para uma apresentação conjunta. Vale dizer que a canção tornou-se parte do repertório da banda durante a excursão mundial.
O U2 abriria a turnê americana em Denver, no dia 2 de abril em show na Universidade Estadual do Arizona, na cidade de Tempe. O estado do Arizona era um dos poucos que não adotaram o dia 15 de janeiro, data de nascimento de Martin Luther King, como feriado nacional. O governador Evan Mechan vetou a idéia e alguns músicos americanos, em repúdio, decidiram não tocar no estado enquanto ele não mudasse sua postura. Mas o U2 tocou, ainda que Stevie Wonder tivesse feito um pedido à banda para que isso não acontecesse.
Com a polêmica aberta, o grupo a aumentou ainda mais com uma declaração que foi lida pelo promotor Barry Fey, e escrita pela banda. Eis os dizeres: “o governo Mecham está envergonhando todo o povo do Arizona. Nós condenamos sua ação e seu ponto de vista, que é um insulto a um grande líder.” E deram o show, recebendo críticas duplas: do governador e dos demais músicos. Uma pequena curiosidade: esse show rendeu um belo cd duplo pirata chamado Governor Mechan & MLK e que até hoje eu guardo e mostra a banda em boa forma, fato raro em um início de turnê.
Após o final do show, Bono argumentou que a vontade do governador não era a mesma das pessoas e por isso fizeram a apresentação. Os críticos rebateram dizendo que se era para respeitar a opinião pública, deveriam ter boicotado o estado. E a briga mostrou ao cantor e ao grupo que algumas vezes as palavras e ações erradas iriam causar um considerável estrago durante o ano.
grupo seguia então uma imensa sucessão de apresentações. Foram 29, até o dia 16 de maio, final da primeira parte da turnê norte-americana, quando partiram para a Europa. Vale dizer que todos esses shows na América foram abertos pela banda Lone Justice, liderada por Maria McKee, e grupo com quem Bono fez uma cover de “Sweet Jane, de Lou Reed, incluída na coletânea This World Is Not My Home, do Justice, em 1999. Em um desses shows, Bob Dylan subiu ao palco para cantar “Knockin’ On Heaven’s Door”. Meses depois se encontrariam de uma forma muito mais especial: em um estúdio.
A parte européia começou com um show em Roma, no dia 27 de maio. Uma das grandes atrações dos 30 shows foram os artistas convidados para abrirem as apresentações. A lista é impressionante e vale colocar algum desses nomes: Big Audio Dynamite (banda de Mick Jones, ex-Clash), Dubliners, The Fall, Lone Justice, The Mission, Pogues, The Pretenders, UB40 e o grande ídolo de Bono, Lou Reed.
A excursão pela Europa teve lotações esgotadas por todos os lugares em que passou: Itália, Inglaterra, Alemanha, Holanda e França, mas o fato mais extraordinário aconteceu em Madri. Era a primeira vez que o grupo apresentava-se na cidade e eles tocariam no estádio Santiago Bernabeu, de propriedade do Real Madrid. Foram vendidos 75 mil ingressos para a apresentação, mas quando o show começou havia 115 mil pessoas, já que 40 mil ingressos haviam sido falsificados! Essa foi a maior platéia de toda a excursão e a segunda vez na carreira do grupo em que tinham mais de 100 mil espectadores em um show. A apresentação foi memorável, especialmente após tocarem “Spanish Eyes”, o lado B do single “I Still Haven’t Found What I’m Looking For”. O último show da turnê européia aconteceu na Irlanda, no Pairc Ui Chaoimh, em Cork, no dia 8 de agosto. Nesse dia, The Edge completava 26 anos e um bolo gigante foi levado ao estádio durante a canção “Party Girl”. Para surpresa do guitarrista, sua esposa Aislinn saiu de dentro e estourou uma garrafa de champagne.
Mas nem tudo era maravilha no horizonte da banda. Apesar do imenso sucesso de crítica, público, vendagem, a banda começou a ser criticada duramente dos dois lados do Atlântico. O primeiro grande problema foi a forma, até certo ponto ingênua, de como o grupo tentou “salvar o mundo”. A cada show Bono fazia dois ou três discursos intermináveis sobre a situação do mundo, da América, especialmente na canção “Bullet the Blue Sky”, quando improvisava frases e citava nomes de John Coltrane e outros músicos americanos famosos, mas com quem a platéia não conhecia. Isso causou dois problemas: a primeira, a de serem tachados como presunçosos por quererem mostrar cultura musical, e o outro pela postura maniqueísta do mundo. E essa posição inflamada de Bono no palco começou a respingar nos demais integrantes. Um dos que mais se irritou foi Larry Mullen.
Em uma entrevista para a revista Musician, o quieto baterista comentou o fato: “Não é incrível que quando você atinge um certo nível tudo que você faz de repente se torna importante? Parece que todo mundo está falando do ‘fenômeno U2’, mas se esqueceram de nossas músicas!” O baterista não se conformava como tudo era exagerado após virarem a banda do momento. “A cada gesto ou ato nosso, há mil interpretações. Às vezes pedimos para o Bono não falar tanto e apenas cantar. Mas ele age dessa forma e como não há como controlar, tudo vira uma grande histeria.”
Adam Clayton chegou também a comentar o fato e se dizia chateado com tanto assédio e histeria. “As pessoas acham que escrever uma canção é fácil, mas elas não percebem que quando você escreve algo, ela são doloridas para nós, no sentido em que nos expomos e deixamos que as pessoas conheçam mais sobre nós. É óbvio que não vamos mudar o mundo, nem queremos isso. Mas de repente, cada palavra de Bono vira manchete mundial e temos que responder mil perguntas. A nossa relação com a América não é de amor, ela é bem ambígua, aliás. Nós gostamos da liberdade e por ser o lugar onde as pessoas possuem a mente mais aberta para idéias e realizações. Mas há o lado negro da América, a América que Reagan construiu, de um caubói que entrou na Casa Branca como se fosse em seu rancho e cria uma paranóia no planeta. Há o racismo, a intolerância, o embargo econômico contra os países da América Central, enfim vários detalhes que não concordamos. Nós gostamos da América, mas isso não significa que abandonamos nossas origens irlandesas e nem que tenhamos ficado cegos para as injustiças que lá acontecem.”
Bono também se sentia confuso. “As pessoas acham que sou uma pessoa que tem todas as respostas. Só que não tenho, mas mesmo assim, acho importante apontar certas questões. Aliás, nunca houve um grupo de rock que tivesse todas essas respostas. O que causa confusão é que nós estamos com um poder tão grande que as pessoas acabam dando uma importância demasiada para as minhas opiniões. Na Irlanda me chamam de liberal porque sou contra o que acontece no meu país. Fico enlouquecido quando tentam me enquadrar politicamente em um lado. Eu não faço parte nem da esquerda, da direita ou centro porque o que manda na Irlanda são velhas ideologias com as quais não concordo. Mas isso não significa que apóio os liberais, pois igualmente discordo deles. Eu não me interesso por ideologias políticas, eu me interesso pelo indivíduo e por suas idéias em particular. O fato de eu gostar de um ou de outro, não significa que eu vá comparecer em suas reuniões ou comícios, mas também significa que me dou a liberdade de ir caso eu queira, sem que isso implique necessariamente em um apoio. Existe uma tênue diferença entre você concordar e abraçar uma causa. Minha única causa é o U2 e nossa música.”
The Edge fez um comentário interessante sobre a evolução do “fenômeno U2”. Um ano atrás éramos a maior banda underground do mundo e nós vendíamos bem menos. Na verdade, sempre ficava frustrado quando via nossas vendagens, porque não entendia como poderíamos fazer shows para 10 ou 15 mil pessoas toda noite e nossos discos terem uma procura tão baixa. Nós éramos visto como a banda imaculada, pura, de um país com pouca tradição no rock e dado como ingênuos. Bem, somos ingênuos, mas nada em nós mudou. A única coisa que alterou é que resolvemos ir dentro das raízes da música e por isso somos criticados.
Bono mostra que várias canções possuem um tema bem “europeu”. “Eu escrevi ‘Running to Stand Still’ com a imagem nas Sete Torres, que era um local onde as pessoas costumam até hoje comprar drogas em Dublin. Eu escrevi ‘Red Hill Mining Town’, falando das greves dos mineiros na Inglaterra e como ela devastou a vida de várias famílias. ‘One Tree Hill’ é para Greg e para Victor Jara, um músico chileno que foi perseguido pelo governo de seu país. Eu me interesso em vários aspectos do mundo, mas me interesso muito mais pelo indivíduo. Eu gostaria de saber como era a vida desses mineiros que de repente perderam seu emprego e que tinham uma família para sustentar. Como ficou o orgulho deles, vendo que buscando uma resposta para seus problemas só conseguiram agravar? O ponto de vista humano é o que me interessa, muito mais do que o de uma nação.”
Mesmo “Bullet the Blue Sky” há um ponto de vista específico. “Quando voltei da América Central comecei a escrever essa letra e pedi para que Edge reproduzisse em seu amplificador o som de San Salvador. Aliás, a maior influência dele nessa canção foi Jimmy Page. Eu não entendo quando chamam esse disco de o ‘álbum americano do U2’, porque, apesar de eu querer mesclar com o blues e o gospel, ele soa muito mais europeu do que propriamente norte-americano.”
Um assunto que começou a irritar profundamente a banda era sobre o selo Mother. “De repente começaram a nos criticar dizendo que éramos uma gravadora igual às outras, que só visamos o lucro. Mas será que eles não perceberam que nosso esquema era muito mais limitado, que funcionamos mais como um cartão de visitas. Hoje a Sinéad O’ Connor nos xinga, nos critica, mas ela se esquece o quanto nós nos empenhamos para ajudá-la no começo, com todo seu gênio complicado. Eu nunca mais vou me esquecer de um conselho de Pete (Townshend, do The Who) quando ele me disse que tínhamos feito uma grande bobagem em montar o selo. Pete me disse para que nunca na vida se perca o norte e sempre siga nele, porque quanto mais você tenta ajudar mais você é criticado e mais ódio você atrai. Eu disse que ele estava errado, mas hoje vejo que o erro foi nosso. Por isso quando vejo Adam e Larry dizendo que vão acabar com tudo isso, que não se importam em serem criticados depois, fico dividido, porque apóio a decisão deles, mas ao mesmo tempo critico essa postura de pular fora.”
agradecimento: www.beatrix.pro.br/mofo
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