O U2 prometeu tocar canções que eles nunca tocaram ao vivo até hoje, e também prometeram ressuscitar canções que eles não estavam tocando nas turnês mais recentes.
Um dia antes da noite de estréia, a banda fez um ensaio geral para centenas de fãs e amigos da banda no Camp Nou, onde tocaram o set completo e mostraram o funcionamento das luzes, telão, e tudo mais. E as surpresas já aconteceram nesta apresentação: Ultraviolet (Light My Way) foi tocada ao vivo depois de 16 anos, e The Unforgettable Fire foi tocada depois de 19 anos fora de um setlist da banda. As recentes Unknown Caller e Moment of Surrender foram tocadas ao vivo também pela primeira vez. E o set teve canções como MLK e In A Little While, que são canções difíceis de integrar os shows da banda.A banda resolveu ousar e apresentar uma versão remixada e bem eletrônica de Crazy Tonight, nos moldes daquele remix de Lemon que tocava na Popmart Tour.
A noite de estréia em Barcelona para 90 mil pessoas teve o setlist idêntico à essa apresentação teste, mas o setlist da segunda noite em Barcelona trouxe novas surpresas: Crazy Tonight além da versão remixada, teve também sua versão normal tocada ao vivo. E para delírio dos fãs da banda, a canção Electrical Storm foi tocada pela primeira vez ao vivo pela banda.
Os shows foram um espetáculo áudio visual espantoso. A banda deixou o público de boca aberta com um mega palco, uma estação espacial em forma de aranha de 50 metros de altura, inspirada na obra do arquiteto catalão Antoni Gaudi, batizada de The Claw (A Garra). O espetáculo de luzes que saíam da estação espacial, o telão sanfona que se abria e descia até cobrir a bateria, mais as 17 câmeras estratégicamente posicionadas fizeram com que cada música parecesse um videoclipe acabado. Em Ultraviolet, Bono todo iluminado por um traje de luzes vermelhas, brinca com um microfone-volante suspenso do alto do palco. Um dos pontos altos da noite de estréia. Outras técnicas manjadas do U2, mas que continuarão surtindo efeito em “360º”, são colocar-se em dia sobre causas políticas e apresentá-las ao seu séquito, se atualizar sobre as novas possibilidades tecnológicas que propiciem delírio coletivo, e não deixar passar em branco as personalidades ou símbolos que, segundo rege sua própria cartilha, precisam ser homenageadas.
Vide o discurso do carismático bispo sul-africano Desmond Tutu. Suas falas são exibidas no telão em mais de um momento do show, e contribuem para divulgar a campanha pela erradicação da pobreza e da Aids, 'ONE'. O debate político também é forte com as honras à ativista e Prêmio Nobel birmanesa encarcerada Aung San Suu Kyi. A ela, o U2 dedica não só a música “Walk On”, mas também palavras de seu frontman, imagens no telão e a distribuição de máscaras com seu rosto, algumas delas usadas por integrantes da platéia convidados a desfilar no palco. Já as novas estripulias técnicas remetem a “Zoo TV”, quando Bono telefonava para grandes líderes mundiais entre uma música e outra. Só que desta vez ele contatou, e via vídeo, uma Estação Espacial Internacional. E no setor das homenagens apolíticas, não era necessário divagar muito para apostar que o alvo seria Michael Jackson. Pairava apenas a curiosidade de se saber como seria feito o tributo. “Escrevemos esta canção para Billie Holiday, mas hoje à cantaremos para Michael Jackson”, explicou Bono, antes de cantar “Angel of Harlem” na primeira noite, com citações de “Man In The Mirror” e “Don’t Stop Till You Get Enough’, ambas de Jackson.
Já na segunda noite em Barcelona, Bono fez a homenagem cantando um trecho de Billie Jean depois da canção Desire.
De todos os movimentos já previstos quando o U2 entra em cena, o mais essencial para muitos de seus fãs e que pouco tem a ver com política ou pirotecnia é a competência de seus quatro músicos. Juntos no palco, como costumam estar há mais de trinta anos, Bono, The Edge, Larry Mullen Jr. e Adam Clayton relembram os presentes de que são, antes de tudo, uma banda de rock, que soa como se fosse formada por mais do que apenas quatro integrantes, tamanha a massa sonora que produzem. E, com os instrumentos em punho, eles em geral demonstram que estariam se divertindo de qualquer forma, independentemente de estarem ou não envoltos em uma parafernália tão espetacular. É interessante ver o contido Mullen subindo sozinho ao palco, para sentar-se em sua bateria e começar o show com as batidas de “Breathe”, sem maiores segredos. Com o baixista Clayton, ele ainda compõe uma sólida cozinha roqueira, o esqueleto certo para a voz preenchedora de espaços de Bono e dos acordes cheio de ecos de The Edge que, como se sabe, é um dos mais criativos e influentes guitarristas em atividade.
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Vídeos das apresentações: