Em 2016, Bono estava deitado de costas, com o peito totalmente aberto, na sala de cirurgia do Hospital Mount Sinai, na cidade de Nova York. Ele estava passando por uma cirurgia de coração aberto para corrigir um aneurisma da aorta, uma condição que surgiu devido a uma válvula de formato irregular. Era algo com que ele conviveu a vida toda, mas agora, devido ao desgaste, havia uma chance de matá-lo.
A recuperação foi difícil, e a grande turnê de trigésimo aniversário do álbum 'The Joshua Tree' se aproximava. "A falta de ar", ele disse para a Esquire, é o que ele mais lembra depois do ocorrido, uma complicação que surgiu após a operação bem-sucedida. Quatro décadas correndo em estádios enquanto cantava — e gritava — lhe deram uma capacidade pulmonar muito maior do que a de seus colegas. Mas Bono de repente sentiu como se tivesse perdido o controle da respiração. "Fiquei aterrorizado", diz ele. "Nunca fiquei tão apavorado".
Seu círculo íntimo sugeriu que ele cancelasse os shows, mas Bono não quis nem ouvir falar nisso. E pela primeira vez em sua carreira, talvez até em sua vida, ele aceitou suas limitações. Ele manteve as datas, mas permaneceu parado durante as apresentações. Ele ficou surpreso com os resultados. "O canto melhorou", ele admite. "Comecei a perceber que estava apenas gritando para sobreviver", diz ele.
Só melhorou nos últimos anos. E agora ele sente que está pintando com cores totalmente novas. "É melhor eu encontrar algumas músicas realmente boas para isso", ele diz. Felizmente, ele pode controlar isso. "Isso é responsabilidade minha e do meu amigo", ele comenta, referindo-se à sua parceiria de composição com The Edge. "E adivinha? Não há nada mais que ele ou eu queiramos fazer que se compare a isso".
A cirurgia de Bono não era segredo, mas nos anos seguintes ele resistiu a refletir sobre isso em entrevistas. Hoje, relaxando em seu sofá, ele diz que está "muito grato" pelo episódio. Afinal, os sustos com a saúde costumam colocar suas prioridades em ordem imediatamente. Elas tendem a fazer você parar e apreciar o que você tem e como chegou lá.
Para Bono, isso significou libertá-lo para finalmente olhar para trás e examinar os diferentes estágios de sua vida extraordinária. A turnê de aniversário de 'The Joshua Tree' em 2017, o livro de memórias, o LP de 2023, 'Songs Of Surrender', o revival de 'Achtung Baby' no Sphere — tudo isso culmina com 'Bono: Stories Of Surrender'. "Não acredito em destino, mas aconteceu na ordem certa", diz ele. "Você não gostaria de ficar lá por muito tempo, mas é preciso reconhecer de onde você veio, em determinado momento".
Após a operação, a família de Bono passou pelo que parece ser uma intervenção no estilo de vida. A mensagem deles era clara: "Você precisa pensar mais sobre a vida cotidiana". Era hora, eles argumentavam, de ele parar e sentir o cheiro das rosas. O que é vida normal? "Sinceramente", ele lembra, "eles disseram: 'Coisas como assistir TV'."
Alguém em seu escritório recomendou a série documental Chef's Table. "Eu disse: 'Vamos lá, você não pode estar falando sério'", lembra Bono. "Preciso assistir Chef's Table?" A primeira maratona de Bono na Netflix. Ele adorou o episódio que seguiu Evan Funke por Bolonha ("ele tem um ótimo sistema de valores") e aquele focado em Jeong Kwan, uma freira budista que cozinha para visitantes em seu templo ("incrível!") e, claro, o episódio de Francis Mallmann ("Eu pensei: uau. E eu tinha acabado de conhecê-lo em turnê").
Sua filha mais velha, Jordan, o apresentou a Fleabag. Sua segunda filha, Eve, o apresentou às Kardashians. Em algum momento, ele até assistiu um pouco de Love Island. Ele diminuiu a velocidade. Disse que não. Não tanto quanto deveria, mas mais do que antes. "Não sou muito bom nisso", ele admite. E à medida que suas fundações (RED) e ONE avançavam, ele finalmente reconsiderou seu envolvimento. "Talvez eu devesse me esconder nos bastidores", pensei.
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