PARA VOCÊ ENCONTRAR O QUE ESTÁ PROCURANDO

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

"Tocar em grandes estádios é muito chato, a não ser que seja mágico, a não ser que isso transcenda. Senão, tocar para milhares significa nada"


Bono, em simpáticos e exclusivos 40 minutos por telefone para Lúcio Ribeiro da Folha De São Paulo, de Seattle (EUA), às vésperas do último show de 1997 da turnê Popmart:

"Eu ainda hoje fico meio confuso quando penso no que é estar em uma banda com as gigantescas proporções que o U2 alcançou nestes anos todos, no monstro em que a banda se transformou. Meus sentimentos são conflitantes.
Acho que o rock'n'roll é extraordinário para aquelas bandas que conseguem atravessar as colinas do 'mainstream', como fizeram os Beatles, os Rolling Stones, os Sex Pistols, o Clash... e o Nirvana.
Tudo bem, é maravilhoso tocar muito no rádio, fazer centenas de shows, ter suas ideias espalhadas por todo o lugar. Mas às vezes fazer tudo isso pode se tornar algo muito desagradável... Você nunca pode se comprometer, se render... Você nunca deve esquecer que está 'interpretando' o papel de um pop star, em um 'filme', uma superprodução que se chama 'A Máquina da Indústria Pop'.
Eu não me considero um boa estrela do rock. Mesmo com o que eu já consegui até hoje, me sinto na maioria das vezes um fingidor no papel de pop star. Sinto-me desconfortável com tudo o que isso gera.
Mas na música que o U2 faz não há mentiras. Nosso som vem em estado natural. É como se saísse de um rasgo aberto do peito, em uma cirurgia do coração.
Só que esse manto de superbanda que nos envolve é muitas vezes difícil de aguentar. Alguém me disse certa vez: 'Você sempre será um rock'n'roll star desde que não vire uma celebridade'.
Acho que o U2 sempre planejou ser um grande grupo de rock, estar presente nas rádios, ser parte significante desta era em que estamos. Mas sem, antes de tudo, ser considerado uma celebridade, em vez de uma boa banda de rock. Eu não me considero uma celebridade e sinto orgulho disso.
Mas isso é só um aspecto...
Vou dizer uma coisa. Tocar em grandes estádios é muito chato. A não ser que seja mágico, a não ser que isso transcenda. Senão, tocar para milhares significa nada.
É incrível sentir que 50 mil ou 100 mil pessoas estão na sua sintonia, na mesma sintonia que você, não importa qual razão social, política ou econômica forme esse fã que está diante da banda.
Você sabe, um fã do U2 de Sarajevo é diferente de um fã americano, que é diferente de um brasileiro, de um alemão. E cada uma dessas pessoas que vai ao show carrega para o estádio seus problemas.
Mas, quando você faz um show como esses da PopMart, em que por duas horas, não importa o lugar, você consegue botar na mesma sintonia milhares de fãs, isso é mágico.
E isso acontece quando o U2 toca. E isso é o que me move".
Comentários
0 Comentários

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...